páginas brancas

Monday, January 14, 2008

Chegaram a suas casas... mudas...
Uma ou outra falava inutilidades do conluío
As mais espertas e estouvadas...
As mandatárias do ilícito crime
Vinham á frente... ar abetoado e explícito
Tinham salvo a honra das mulheres de bem...
Das senhoras e mães de família...
Já que os seus homens não se meteriam nisso
A elas de enfrentarem a temível bicha...
E foram se ligeiras... trauteando...
Cada uma para suas vidas...
Preparou se a janta e veio a hora da comida...
Seus homens arregaçavam já as mangas enodoadas
Do trabalho e faina do dia...
Resmungaram alto o atraso da sopa e do manjar divino
A que se tinham apregoado o direito desde o santo dia
No altar da igreja... em arraial farto ... no dia de Maria...
Elas destapavam as tampas das tigelas e serviam...
Chamavam pelas criaditas que se demoravam na corrida
E clamavam os horrores dos tempos em que o pessoal
Já pouco ou para nada servia...
E olhavam os seus homens com tal obstinação
Que lhes perguntaram estes que raio hoje se passava ali...
«sou vossa mulher meu marido e gosto de vos ver bem nutrido»
Ora essa... a minha mulherzinha...tão preocupada com o seu janotinha...
E riram os dois... em sorriso de adivinha...
Pois que pouco ou nada se interessava ele pelos seus ditos...
Achegou se a tarde aloucada do crime... e em certa casa vizinha
Remoía o acontecido uma das criaturas dotadas no crime.
Primeiro achou se acertada na topada da sangria
Mas respingara lhe para o fato pingos do sumo da veia da dita
Que não a deixariam inocente no crime...
Tentou inocentar se em demasia... que tinha sido um favorzinho
Á linhagem pura das donas da confraria...
Prometeu se a lavar a blusa e que depressa tudo seria esquecido...
Pôs se a olhar... e a converter para si o peso da enxada
Que a outra levara pela cabeça acima...
Tivera apenas tempo de lhe avaliar a pele fina...
A pecadora não teria sequer um enterro...
Seria toda ela corcomida pelos gaviões e outros bichinhos
Que pairavam alto... lá no céu... longe das vistas...
Mas...pelo sim pelo não... haveria de falar ás amigas
De lá irem espreitar a darem um jeitinho aos arbustos e demais folhagems
Para que ninguém ao ali passar desconfiasse do sucedido...
Nessa noite houve quem não dormisse de boa consciência
Apesar de se terem todas acomodadas ao mesmo e jurassem
Terem se por libertadoras do vício e da acção... descomprometidas...
Que fora Deus que lhes guiara a passada... e a vontade tinha sido divina...
Que a vida era mesmo assim... e que tudo continuaria como até ali...
Na manhã a seguir ajuntaram se todas a escutar a parávora conjurada...
Daquela que lhes propunha um fortuita ida ao local do morticínio...
Combinaram a hora pela tarde a meio... e que seria afinal ...
Só para abrigarem o corpo dos olhares curiosos
Que por ali quem sabe... passariam... e que até alguma curiosidade oferecesse
Na procura insistente da chave da desgraça ali estampada... e já morrida...
Marcharam se todas em batalhão fidedigno até ao local batido...
Arregalaram se lhes os olhos... tremeram se lhes as pestanas...
Arrepiaram se lhes as coxas e as mamas...
O corpo tinha desaparecido...

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