páginas brancas

Saturday, March 11, 2006

Episódio

Decidiram um dia erguer me um muro...não o vi no início...fiquei presa ,,,ofuscada num clarão de indignidade sem fim...tinham ousado tapar a parede com tijolo e cimento, com o topete de um magistrado...até porque não há nada que perguntar, quando se quer fazer mal a alguém...fizeram me mal ,em me terem erguido aquele muro...na vida como na morte, não se podem erguer muros...se se nascer com um muro á frente dos olhos, corre se o perigo de se ficar cego...e quem não o ficar nos olhos, fica o no coração...os malandros ergueram um muro, pensando que me calariam., que me pudessem esconder, queriam me mais pura, mais obediente, a domesticação tinha de ser mais cuidadosa...mas a minha voz perdeu a doçura de outrora...gritei muito...fiquei doente...e quase morri, po causa daquele muro que me aprisionava a alma...que não me deixava ver o pôr de sol, que não me deixava ver o céu de onde vim...eles não alcançavam nada...não percebem que sem luz, sem ar, sem cores, sem formas, sem espectros, sem fantasmas, sem sombras, sem lua nem luar, sem ver a paridela do sol, a baralhação que vai lá fora, que intriga, que afojenta, que arrepia, que dobra as esquinas das noites e dos dias, sem a percepção das nuances multicolores da natureza, sem as metarmofose , sem isto tudo não pode haver vida...barraram me o paraíso...a luz falava me, aos soluços,de encontro á espessa fachada...apanhava, como se estivessem a léguas, os rumores tristes e alegres de quem passava... longe ia o tempo em que ...olhava nos olhos dos homens que sorriam, vaidosos, e que acenavam com a mão...apaixonei me por rostos, vestes, disfarces., tentava imitar o deambular das mulheres vaidosas que passeavam..e numa tarde caprichosa, tomando a minha.cuiriosoda por acesa ousadia, cortaram a serpentina que dançava nos meus olhos, e os fantoches,os duendos, os pássaros, as rodas de meninas que viviam no meu coração desapareceram, e quase morri...mas um dia, descobri num canto da minha memória, uma marreta,assentei lhe bem as mãos, levantei a firmemente, como quem vai taquear uma bola de golfe,e despejei a minha fúria, a minha raiva, a minha cólera, a minha espinha torta que trago atravessada na veia, e num estrondo ,derrubei a minha prisão...quando se juntou a vizinhança , vinda ao ruído do trovão, chamaram me louca, que o marido haveria de se entender comigo lá para o cair da tarde...não sou eu...é a sombra de um sonho que tive...é uma verdade de uma outra vida, que me fez tão ousada...veio o marido...ela abeirou se da janela, transfigurada pela loucura que lhe varria o corpo ...chamou por ele, uivando como um lobo esfomeado, atrás da presa...ele virou a cara, partiu para o outro lado...naquele instante percebera que a tinha perdido para sempre...um dia haveria de a tornar a achar...numa outra vida, num outro lugar...e a pobre sonharia muito tempo com o tudo...lá fora ...demoraria algum tempo...porque há gente que não aprende...que não se sabe cuidar...mas dessa vez, ela lhe esborrecharia a cabeça com a marreta...

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