páginas brancas

Tuesday, February 21, 2006

Eu!

Não tenho tempo, não tenho idade
Sou filha da pedra, do mar, do ar
Nasci do nada, em noite de encantar!
Não tenho tempo...
Sou filha da lua, da estrela polar
Subi montes e colinas para cá chegar
Percorri léguas, agarrada a teus pés
Dormi junto ao teu peito em noite fria
Corri o teu corpo nu, num suspiro profundo
Respirei fundo, o sabor quente do teu hálito maduro...
Não tenho tempo!
Sou filha do espaço, da luz
Sou a asa esquecida do vento
Sou a mão que aconchega e não se sente
Sou a coisa perdida e que não se acha
Sou a filha do rio, que não tem morada!
Sou os lábios carnudos e tenros dos namorados
Sou tudo e não sou nada!
Já fui árvore rachada, em noite de trovoada
Rasguei ventres em madrugadas aflitas
Chorei mágoas ao vento
Respirei o suor dos dias cansados
Enterrei anjos e cobardes
Sou a noite, embalando docemente a saudade
Sou tudo e não sou nada1
Sou a mão, a pata, a pisada
Do bicho cinzento, seguindo a amada
Sou o rasto da fera, perdida no mato
Sou a sombra desvairada,, perseguindo a traição consumada
Sou aquilo que nunca acaba!
Sou o beijo roubado
A morte sentenciada
A fuga planeada
A força enjaulada
O amor exuberante
Olhos brilhantes
Boca gulosa
O desejo abafado
O abraço inseguro
O ventre, o ninho, o aconchego...

Sou tudo e não sou nada!!!

0 Comments:

Post a Comment

<< Home