páginas brancas

Wednesday, March 15, 2006

Desceu sem querer ,as escadas que a levariam ao inferno...do seu peito saìa lhe uma fogueira de chamas que abrasava quem se aproximasse dela...cheirou o lume de cinzas que lhe pulava da carne, e pôs se a rosnar, como uma fera que quereriam abater...parou a caminho e olhou para baixo...ainda lhe faltavam umas boas léguas para mergulhar nas névoas densas e negras, que lhe haveriam de moldar o corpo e torná la em mais um fantasma errante que por ali deambulava...veio lhe então á memória imagens decapitadas, diluídas de um grande dicionário, onde, em nova, costumava procurar palavras...esquecera se da sua utilização há muito, e rebuscava nos meandros dos caminhos labirínticos dos seus saberes,a palavra certa para a afastar daquele lugar medonho e tentador...estirar se numa profunda preguiça...deixar se levar pelos instinctos macabros da sua espécie...retorcer a língua do tanto mal dizer, chamando a si as comadres da prevaricação...cair no pecado e entregar o seu corpo ao primeiro ,vindo ao seu apelo...lá em baixo, a vegetação tinha sido devastada pelo gelo...tudo branco...arrepiou se...o branco das palavra, do verbo ,do desenho,do mistério...a negação do absolutismo...árvores decapitadas...corpos feridos...tudo incoloro, num joge de obscena descompaixão...o medo,o terror, a opressão e o desamparo tomaram conta dela, fazendo com que subisse algums degraus, para se afastar daquele lugar fúnebre.... mas a vontade voltou lhe e tornou a descer...queria afastar se daquela outra metade do tempo...perdera quase tudo, e naquele mancha azul onde se habituara a viver...a dor, o rasto confuso da emoção a que não estava habituada,a intensidade da perda crivada no seu corpo chagado,fê la agonizar se ainda mais na sua dor.,..deu mais um passo...palavras fragmentadas, descompassadas, blocos espessos de dor escorriam do seu coração...sentia se tonta e fatigada...de repente, lembrou se de Cerbro, guardando as portas do inferno, e do seu feroz dono,Plutão...o medo de ser mordida e mastigada pelos dois, abrandou lhe a passada...e o dicionário, com os seus múltiplos sentidos e saberes não lhe saía agora da cabeça...foi ao fundo do poço do seu ser, procurando a palavra da ressureição...descobrira a súbitamente...caminhava levemente,por cima das tiras do passado esquecido...e o corpo estremeceu lhe, num gesto magoado de súbita vitória...trauteava então baixinho,como se de uma formula mágica se tratasse, e na esperança de reaver o seu amor...sol lucet omnibus...sol lucet omnibus...sol lucet omnibus...tinha encontrado a palavra que procurava, nas velhas folhas quase apagadas...sol...sol...o sol teria que aparecer novamente,e brilharia também para ela, ali, no alto daqueles degraus...uma súbita vontade de retroceder, apoderou se dela...procuraria algum consolo num lugar bem quente,encostar se ia a um qualquer muro, e ali, deixaria a quentura do amigo, queimar e sarar lhe a ferida...acharia no clarão luminoso do meio dia em que se costumavam encontrar, o carinho do abraço dado outrora no passeio afunilado da vida...subiu vivamente os degraus que lhe faltavam,e sôfregamente,sorveu ,vindo de um buraquinho do corpo da aurora, o primeiro raio de luz...

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