páginas brancas

Saturday, September 23, 2006

Estremeço por debaixo
Do ronco ensurdecedor do tempo...
E tudo sobre mim se abate
E por mim tudo volteia
Num redemoinho espesso
Traçando fronteiras...
Pois que de mim se afaste agora
Esse tanto que me tem feito
Esse tempo que vai e vem
Esquecendo...momentos...
E se parar o seu furor num instante
Que seja eu seu recosto
Para caber inteira
Para cheirar amiúde
Comer lhe o cheiro
Das histórias que para aqui manda...
Ai se eu pudesse lhe alcançar o passo
Não seria eu a primeira
De todos os que com ele se batem
Sua conselheira?
Que se dobre sobre mim a justiça
Que clame alto seus feitos
E eu adormeça então...serena...
Sossegando lhe as vontades
Embalando o ...num beijo...

Friday, September 22, 2006

Olham me com olhos lânguidos
Essas sombras que se arrastam
Longas...compridas ...caudosas
Estirando se num abraço...
Mas eu fujo apressada
Da ânsia de me apartar
Pois que aqueles que a mim vêm
De um fôlego me querem tragar...
Olho os de frente...lentinho...
A modo de os apaziguar...
E breves apartes mastigo
A modo de nos conciliar...
E redobram leves...sózinhos...
Sustendo os corpos pesados
Que em mim se queriam encostar...
E lá vão indo sózinhos
Aqueles que não têm achado...
E os meus olhos são estrelinhas
Na caminhada... amparo...
E para lá dos nevoeiros suspensos
Se vão...silenciosos...largados...

Thursday, September 21, 2006

Amolenta me o espírito
Essa gente que passa...indiferente...
Sussuram no ar ramos de espiga
Afoitas... desassossegando...impacientes...
E por sobre o cabelo aventado
Correm palmilhando leves
As asinhas pretas de uma andorinha
Que me chega... contente...
E da pressa consumptível de quem passa
Me arredeio sózinha
Para o ventre de um sopro
Que me chega... quente...
E na congeminação fácil da vontade
Se emprestaram asas á mente
E pelos ares voaram de mãos dadas
Acenando ...folguendo...


E assim... logo chegaram a casa cedo...

Monday, September 18, 2006

Amoitou se o cobarde
Por serranias ventosas
E na absurdidade de sua mente
Pensava ele fugir... inocente...
Á consulta culposa da sua consciência
Que o pecado... fraco lhe parecia
Mas por anos se engrossou
E num dia de calmaria
De um ermo se atirou
Pois que...com o fardo já não podia
Caminhar leve...
Na serrania que o acoitou...

Sunday, September 17, 2006

Andam sempre devagar esperando por ela...
Pois que a passada é curta...arrastada...
Reclamam sempre em seu redor
A pouca certeza do rumo
A companhia do nada...
Mas o que não sabem é que na sua cabeça
Visitam na meninos e meninas
Que não cessam de conversar...
Que não param de brincar...
E que acenam gestos multicolores
Que lhe entretêm o deambular...
Gritam lhe então cá de baixa... os outros...
Incongruências temíveis
Da pressa que têm em chegar...
Mas ela segue a esmo na outra banda
As vozes adoráveis que a distraem...
Mergulha nas cataratas frescas do seu passado
Procura os cheiros gostosos e saudosos
Que a animavam... vivificavam...
E no redobro gasto da vida
Se amentava a menina...sempre e sempre
Pasmando se...caminhando...
Seguindo os demais...
E na calosidade afecta da gente expectante
Se atira a menina de súbito...de lado...
No colo quente de um riso brilhante...

E perderam lhe o rasto por eternos instantes...

Friday, September 15, 2006

Marcharam por cima de seus olhos parados
Turvou se lhes o céu rosado
E na planície da sua mente
Esperou que passassem...
Ergueram se por cima de si cabeças astuciosas
Ferraram lhe os caninos na face marmoreada
Mas ela caminhava de lado...
Não sentia rancor...não sentia nada...
Tudo por cima de si escorregava
E em jeito de preguiça estirou se...
Descaiu a cabeça sofre almofada macia
E ficou sossegada ali...
Deitou se a dormir e a sonhar
Pois que de noite e de dia
Visitavam na almas boas..
Enfeitadas de sorrisos
E nos entrelúdios da vida
Prazeava se a menina do outro lado do monte
Em conversas amenas com o amigo...

Tuesday, September 12, 2006

Tudo fizeram para me ultrajar...
Mas a palavra raivosa...imunda...desgastada...
Parou á porta do meu coração...
Ai...os senhores queriam que eu estrebuchasse
De frente aos rostos ocos e fechados da multidão...
Ai...tudo fizeram para que me aviltasse...
Mas prendi os braços numa jaula
Segurei os com uma corda fina
Na raíz das minhas mãos...
Agarradinha ao meu coração...
Ai essa pobre gente gritava...
Queriam me atormentada...
Queriam me culposa do nada...
Pois ouvi...gente que passa...
Que o ódio que tendes adentro de vós
Em mim se derrete em brandura...
Que as palavras ousadas que prenuncieis
Em mim chegam quebradiças
Palavras frágeis de verdade
Doentes na chegada
Folgo partido...
Trespaçadas de antemão...
Porque eu... tenho o céu...os anjos...
E sei na verdade...
Que está para breve a partida...
E que um dia gritareis por mim cá de baixo
Pois que a chuva...são as lágrimas dos demais
Que daqui partiram...
E por mim clamarás... ó homem confuso!
Que as águas desçam depressa do céu
Para te aumentarem
A verdura de que precisas...
Mas lembra te então...
Que o derramado no teu quintal
São lágrimas minhas...
Pois que sobre ti caíram minhas preces
E as orações chegarão então
Na forma do que mais precisas...

E é por isso que chove cada vez mais...choram os bons para que nada falte aos maus que se apoderaram de suas terras...pois que as flores não merecem morrer...é através delas que os homems ganharam a imortalidade...no céu e cá na terra...
Olham me de soslaio... os que passam...
Olhares pequeninos esses que me embrulham
E na manta dos súbitos recados
Me deito quente a dormir...
E no descanso repicado de suas palavras
Me rebolo a rir...
Pois que são ternos esses olhares que me mandam
Esses meninos que passam
E as mãos que relampejam de vontade
De ao meu pescoço se agarrarem
São os sonhos pequeninos
Da vontade que me têm
Do ardor que se lhes alevanta
De comigo partirem em viagem
Por aqueles sinais verdejantes
Por aquelas estrelas adiantes
Onde um dia nos prometemos morada...
Ai...essas nuvens que passam...
Vede lhes o cheiro
Os azuis olhos cativantes...
Os rosas lábios inibriantes...
Ai... se um dia para lá me pudesses levar...
E no cheiro virgem de uma rosa negra...amante...
Levou lhes o vento... o recado brando...

Saturday, September 09, 2006

tudo passa...
Ai tudo passa...no tempo quieto...
Fala se baixinho nas esquinas das vidas
Marcha se mudo sobre a pele mole da terra
E cristalizam se paixões
No ar sacudido das tempestades frias...
Vão se embora sem se voltarem
Partem numa algazarra bizarra
Entoam se cânticos alegres
Na fuga súbita de quem parte...
Pois é...entreolham se sem emoção
Os amantes de então...
Escapam se...apressados... corpos magoados...
E num ávido desejo de mudança
Passam por aqui.. aqueles que amam...
E na benção de um olhar
Despregam se recados recheados de emoções...
Porque quem de mim parte
Veste se de tenra saudade
E na mente caprichosa ouvem se ainda as palavras
Pois ...que ternas foram os motes cantados baixinho
Lavados em toms cheirosos e finos...
Quem parte...que leve agarrada á bochecha
Deitados nos lábios cansados
A saudade de um beijo meu...

Thursday, September 07, 2006


Chegou devagar o meu menino
Vindo do ventre do céu
Alumiara lhe eu o caminho
Para nele...pequenino...
Se aventurar...devagarinho...
E foi assim que numa noite ventosa
Elevou se a criança pela vereda
Alumiada há décadas por estrelas...
Ai ...essa flor de água cheirosa
Que logo se ajeitou
E num trago de luz
No meu coração se afundou...
Que lindo é esse rapazinho
Que Deus nos mandou...
Vinde...vinde depressa amor meu
Neste colo te aconchegares
A ouvir as preces do meu coração...

E assim cantarolava a avózinha ao seu menino que chegara a tempo de lhe sentir o ardor de seus beijos...

Friday, September 01, 2006

Quiseram percorrer os caminhos
Traçados a ferro e fogo...
Quiseram desvastar as colinas
Onde se encondiam os meus amores...
E esses que me queriam acometer
Procurando o desvendo dos meus segredos
Carregados nas costas... no ventre...
Por cima dos ombros e na cabeça
E aqueles sugados pelo néctar
Das roseiras que em mim floresceram...
Alcançaram lhes a vista os olhos ternos de um despertar
Por cima dos cumes erectos das minhas colinas
Avistei os então correndo
Ávidos de meu coração erguerem ...
Ai os descautelosos
Ai os desventurados
Que meu colo queriam assaltar...

Venham elas devagarinho
Sobre mim acamando seus arraiais...
Venham no sossego do tempo
Abrindo seus aventais
Para que um dia
Me possa...estender serena...
E nas pregas mais atrevidas
Nos esconderijos mais ousados
Vou esconder as histórias
Que por aqui se passaram...
Venham lá essas meninas velhas
Cheias de cobertores
Para me aquecerem pequena
Na última dor...
Venham lá devagar...coxeando
Da velhice que trazem...
Mamando...
Nas tetas do tempo
Nas mamas da aurora...
Venham lá baixinhas
Ouvir as histórias coloridas
Que o vento arrasta no seu cantar
Venham fresquinhas
Para o meu colo pernoitarem...
Que eu vou esperar...contente...
A derradeira visita do tempo
Erguendo para mim seu colo...
E na pureza calma de uma noite
Vou ser a corola bebendo lhes o sereno...