páginas brancas

Monday, January 22, 2007

Linda essa chuva que cai ...
São os fios de teus cabelos
Que me querem para aí levar...
E neles me enlaço radiante
Me balanço contente
E meu cheiro te mando
Neste novelinho manso
Que te vai estreitar ...
E nessa cor abafada de recados
No acatamento da saudade
Me mostro a ti suspirosa
Do tanto que em mim deixastes ...

Wednesday, January 17, 2007

Visitou a certa noite um prestidigitador
E ao ouvido dissera lhe que se apressasse
Pois ... que o tempo
Estava a chegar ao fim ...
Mas ela não quis
Mas ela não ouviu
Mas ela acordou zangada e não ligou ...
E um dia tudo em si se calou
E tudo em si se espalhou
Num doloroso prenúncio de dor
E á testa a aflição lhe soou
E á dormência dos sentidos
Se entregou a pobre
Que não percebia ...
A menina que sorrira ... sorrira
A menina que dançara feliz ...
A menina que cantara afinadinho ...

A fonte sacara ... assim ...
E a menina varria com os olhos o céu limpinho
E devagarinho desceu sobre ela uma graça divina
E a menina de novo ... aos pouquinhos
Falou ... cantou ...
Aprendera a juntar as mãozinhas ... a pedir ...
E pediu ... pediu ...
E todos ajudaram ...
Os Anjos ... Nossa Senhora ...
E o Bom Deus também ...
E no peito da menina
Se abriu mais uma janelinha ...
E o sítio é tão arejadinho ...
Anda comigo alma gentil
Percorrer os campos
Da minha glória ... da minha coroação ...
E no rasto viçoso que me carrega
Ouvem se chamadas dos anjos
Que querem partir ... voando ...
E no constelar de nossos cânticos
Te levo comigo ... alma amiga
Para poderes ... unido a mim
Te arredondares em meu peito ...
E num beijo sussurante
Corrermos os dois ... alegres ...
Vede ... amor ...
Como se é feliz ... aqui no paraíso ...

Sunday, January 14, 2007

Chegaste !
Oh ! alma tentadora !
Num ofuscante jogo de cores
Num apertado feixe de sons
Aqui me tendes ... segura ...
E na morosidade de um abraço
Tende me bem presa a ti ...
Ai ... na cabeça sinto
Ardores de outros tempos
Danças há muito ensaiadas ...
Que me quereis
Desse sítio tão longe ?
Espera um pouco
Oh! âmago de minha vida ...
Porque ... na partida
Me tenho de enfeitar
Pondo as jóias que um dia me ofertastes
Sobre meus olhos fechados
Para que no firmamento
No brilho me possas avistar ...
E na esplenderosa cintilação
De mim te chegares
Banhada nos risos largos
Onde também cabias ...
Oh! Anjos do dia ... da noite gentil
Que por mim passeastes
Guardai me aí
Um cantinho de jardim ...
Clarinho ... ensoleirado ...
Só para mim ...
Escorrerram lhe os olhos
Pelas verdes serranias
Na saudosa inquisição
No deslumbre do velho ...
O tempo de então ...
E na cristalina água da vida
Se viu fugitivo ...
Tudo fora a mais ... o tanto ...
Até então ...

É tão robuste ... este tempo do homem ...
Pois é ... há gente que deveria ter partido ...
Fugitivo ... num eclipse solar ...
Canta ...
Pois que o teu doce trinar
São as asinhas do vento
Levantando as almas pequenas
Para ver ... se chegam ...
Ainda a tempo ... ao paraíso ...
Todos se passeiam no espaço ténuo
Murmulham os pequenos e os grandes
E na quentura de um bocejo
Se inibriam em voltejos dançantes ...
Rodopiantes os desejos de cada um ...
E troveja a gente sem se cansar
Porque ali tudo se dissolve
Na fina rede da imortalidade ...
E tudo que por mim entra
Que por mim trespassa
Cheios de benções de mim partem ...
E depois há essa luz ...
Que me encandeia ... me petrifica
E á doce alucinação me entrego
De me ver com eles ...
Um dia ... sorrindo no paraíso ...
E em rezas sacramentais
Peço que se deslojem de mim
Para eu voltar ao meu espaço
Branquinho ... á mesa do luar ...

Thursday, January 11, 2007

Dizia se puro na inocência do ditame
Mas o tom era desafinado
E o brilha com que pulia as palavras
Era tinto derretido pelo diabo ...
Oh! vil criatura que me vieste enganar
Agadanhar de mim ... tesouros guardados
Riquezas amontoadas ...
E de meu ardor amputar a candura
Agora a outro destinada ...
Pretenderias tu te veres
Arrecadador de minha alma ?
Foi fina a hora de meu despertar
Que te viu afundado em negras cores
E do tudo que em mim querias
Na simplicidade de meu espírito ... me encantares
E de seguida te enfeitares
Do tanto de mim roubado ...
Dos murmúrios aos lindos sonetos
Que te haveria de contar ...
E da fina pele que te haveria de estender a cheirar ...
Oh ! amaldiçoado sejas por me importunares
Nesta hora de desejo ... de bom manjar ...
Pois que era no meu leito
Que te haverias de deitar
E eu no teu para me mimares ...
Sorte esta que me estava destinada
De teu cheiro não provar
E tu ... do meu te afastar
Mas sendo assim ... que se faça a vontade
De quem por aqui manda
Insigne ... o acaso que a ti me levou
Nos caminhos lamacentos do teu trilhar ...
Vivia cá ...
Pois que eu cá ... sou de lá ...
De onde as cores se misturam e tudo estremece ...
De onde ... gigantes afáveis nos carregam ao colo ...
Sou daquele pedaço de mar que navega sem rumo ...
Entre as costas seguras de África e este pedaço quebrado de pedra ...
Sou do ar que me traz ...
Mas que me deita ... lá ...

Por isso ... o desencontro foi brutal !!!

Tuesday, January 09, 2007

No vazio me aprazo a descansar
E no estreitamento do silêncio
Que me chama ... que me atrai ...
Procuro a chama ardente
Que me leve .. me conduza
Por aquele tempo que me estica ... contente ...
E é no mistério do encantamento
Encostado no sossego de seu templo
Que me estendo ... tranquila ...
Procurando a inocência perdida
Nos túmulos em que me enterrarram ...
Viva ... afogueada ...

Monday, January 08, 2007

A verdadeira solidão
E tudo querer ...
É tudo ter ...
E num gesto atrevido
Sempre ... e sempre ...
Fechar a mão ...
Porque ...
Depois de contentes ...
Nada vai sobrar...
E tudo se vai quebrar
Na súbita atormentação ...
Porque o amanhã vai ser igual
E ninguém dá do que tem
E tudo passa bem
Porque esses ...
A gente esquece ...
Para esses ...
Ninguém olha ...
Nem sequer vê ...
Se por aí andam ...
Sempre transparentes ...
Como cães ...
Sem donos ...
Sem ninguém ...
O silêncio é vítreo ...
A ele me encosto ... quieta ...
Suspirando baixinho
Para que ninguém me possa ouvir ...
Para que ninguém me possa recolher ...
Pois ...porque se derem por mim
Gente se vai entrometer
Dissecando ... curiosos ...
Resquícios ternos que habitam em mim
Ouro ... tesouro de meu jardim ...
E como me não posso mexer
Na certa me vão atormentar ...
Porque o silêncio claro que me ilumina
E que em mim cresce
É a alma que me resta
Daquele que em mim adormece
Daquele que em mim se extinguiu
E que em mim renasce ... estremece ...
Quando está agarrado a mim ...

Thursday, January 04, 2007

O alimento não serve para satisfazer a fome da alma
Mas é sim o remédio que põe fim á dor do corpo ...
Não é o aliado fiel do espírito
Mas sim a bemquerencia da carne ...

E os meninos olhavam desconfiados para o professor ...
No branquejo alvo da fina bruma
Se embrenhou ela ... feliz ... contente
Brincando com as cores que lhe chegavam ...
Brancas ... gordas ... apressadas ...
Deitando as frecas num colo generoso ... quente ...
E na fina dobra que em si se aplicou
Desdobrou se então ... por encantamento
Uma sobra de sorriso saudoso
Levado de si ... desvanecendo se
No recato do tear de seu corpo sereno ...
E ouviram se pelos campos resfriados
Melismas de outros tempos
Falaram amores perfeitos ... açucenas ...
Anúncios alegres ... contentes ...
Dos que partiram ... morrendo ...
E na ressuscitação das almas tornando ... alegres ...
Cantaram se descantes ... serestas
E num abraço gostoso de gietas
Na pléida cantante dos poetas
Confessou se o rouxinol ... soou o plectro
E no meio da sombra ... do mistério ...
Tangeu se lhe o corpo
No rompimento pleno de sua pureza
E na candilação dos sonhos ardentes
No terror do medo lupino da floresta
Patiu a donzela na luminância prestativa
De um braço esticado da terra ...