páginas brancas

Saturday, June 30, 2007

Passem por mim... passem...
Que eu vos mandarei flores
E o sol para vos aquecer...
E das rosas vos farei renascer...
Passem...passem por mim... passem...
Desvaneçam se em mim os previligiados
Num daqueles dias afinados
Em que sopra um vento desleixado
E refresca a rubra face... quente e cansada...
E na passagem dos tantos
Que junto a mim se alinharem
Há que sentir o cheiro e o tempero
Das especiarias amenas... doces e gulosas
Que dos meus cabelos trepassam
E da minha boca soltam se risos...
São heiros a canela e gengibre
Almiscaras... bálsamos... incensos perfumados...
E diz me lá... mas diz me mesmo...
Se este passeio num fim da tarde serena
Não abranda o desejo que tendes
De tudo largar e correr...
Para junto a mim te envaideceres...
E em pasmo brando... de parar e pensar...
Para eu... dessa vontade te ordenar...
Pois que ... quando para mim te aventurares
Olha... embasbaca te dos cheiros
Que em teu peito... gulosos... já trespassam...
E confia me baixinho as saudades que tinhas
Desta minha já tão longa ausência...

Sunday, June 24, 2007

A alegria é como um suspiro que passa...
É um remendo na vida que trespassa
E num vôo descarado de máscaras
Se escondem sempre os glutões
Para nos comerem... nas sombras
Em esconderijos amassados
Cansados das perseguições...
Eu quero engolir toda a recriação... o regozijo...
Toda a fascinação que por mim entra ...
Glorificar me no puro deleite... inocente...
E quero enroscar me pequenina
E secreta...não me dar a ver...
Fechar bem os olhos e não me dar a perceber
Áqueles que por aí andam
Enfeitiçando multidões...
Eu sou um pedaçinho de gente... leve....pequenina...
Faço me indistinta... ténua...
Para que ninguém dê por mim assim... contente...

Ave Maria Gracia Plena...

Saturday, June 23, 2007

Ouvir te amor...
É resvalar contente
Pelas vertentes deliciosas
Da uma constelação cintilante de vozes...
E se por um acaso me perder
Nos follhos rendados de uma tua saia
Náo é amor... por mero acaso...
Pois que na profusão dos clamores
Que em mim soltas e me agrada
Vede... vede me sempre radiante...
Estontecida... de tanto o teu corpo abraçar...
E na explosão da mimha afeição
Deixa me em ti repousar...
E desses borrifos crepitantes que me abrasam
No meio dos sorrisos e lágrimas aprazeantes
Espreita me ... enternecida... do tanto te escutar...
E se insistires nesses rasgos amorosos
Na profusão de teus manejares ...
Consagra me os teus olhos ondulantes
Para neles poder flutuar...
E no tremular dessas vozes divinas
Vede me então... vagarosamente vacilar...
Alucinada... num atordoamento delirante
Enroscadinha... florescendo em teus braços...
E na cadência repousante de um teu trinar
Ter me hás na certa...em teus braços a suspirar...
Sossegada... radiante... esperando por mais...

E cada vez que a menina chamava por ele...
Soltavam se cânticos do paraíso...
Para quem quisesse escutar...

Isto... tremenda beleza... no meio deste mundo desmazelado...

Mas a menina estava atenta e não se deixava enganar...

Wednesday, June 20, 2007

Se me agarrares com doçura
Verás as cores dos beijos teus
Que creseceram contentes
No templo meu...
E se te apetecer... num frémito carinhoso
Salpicá lo... guloso...
Anima o então...
No roçar do teu corpo no meu...
Pois ... vede... já nascem em mim
As tulipas e as rosas...
Brotando felizes... de teus borrifos de amor
E que na observação de teus propósitos
Se estenderam na alma minha... banhada de flores
Presente afectuoso... generoso
Que por todos os lados em mim ficou...
Estende te amor... na frugalidade deste meu ardor...

Sunday, June 17, 2007

Adverte me amigo
No silêncio de teus lábios
Na regularidade de teu olhar
Na benevolência das tuas palavras
E na ausencia da ira
Prudencia as tuas palavras
Num sottovoce fraternoso
De quem não quer magoar...
Penetencia me amigo
Se o teu peito feri... imaculado...
E se os teu jeito ofendi
Numa contenda qualquer... desmaselada...
Os sentidos meus... não hão de perdoar...
Abro te o meu peito... amor querido...
Companheiro de longa data
Num caloroso abraço...
E na firmeza densa da tua advertência
Se um dia te magoar
Recebe... amigo carinhoso meu
Este abraço tão querido... tão apertado
E sente forte em teu peito
O meu coração no teu ... a chorar...
Palpita... guloso... o meu coração
Bate num tic tac afinado
E no silêncio imaculado da madrugada
Dança... redopia sem parar...
Vigiando... cantarolando baixo
As cantigas belas que costumava contar
Em tempos idos da meninice alongada...
Mas eu saudei me delas
E ele assentiu ao meu chamado
Tomando conta do soninho que
Que já deambula para outro lado...
Oiço lhe as passadas pequeninas
De quem não quer incomodar
E se lhe prestarmos atenção
Chegam nos com elas... cores leves... doiradas...
São anjinhos a falar...
Coisas boas que trazem para contar
E pintam em telas... rosas... hortenses lindas
Para... de noite nos enfeitarem...

Eu gosto de o ouvir... falando me ... calado...
Há dias em que só me chega um abraço...
E na envoltura de quem me afaga
Fogem os lobos que me querem amordaçar...
E nesse achego que me deleita
Sinto uma quentura no peito...
É o sol que trazes em ti... num frenesim...
Querendo iluminar me ... inteira...
E no filtro dos teus olhos amorosos
Rasteja então... louro e matreiro...
E no meu seio rebola... contente...
E tu vens de mão dada... adornado...
E no teu amor abrilhantam se me os olhos
Porque foram neles que me descobriste...
Em dia soalheiro...
Chega me amor esse abraço
No merecimento desta graça....

Thursday, June 14, 2007

São tão alegres e desenvoltas
As palavras que do meu coração se afastam...
E estendem se espessas... em orações de graça
Sondando anseios... meninas animadas...
São leves... essas letrinhas
Que atiro... bracejando no puro ar...
E vão sempre direitinhas
Para dentro de quem as quiser agarrar...
E quando a elas se chegarem
Vão escutar docemente... aos pulinhos
O vento da serrania a cantar...
E os incensos enleadores... adivinhar...
Pois que... quem de mim se quiser abeirar
Tem de me ver os olhos... e cheirar me...
E os sentidos a dançarem...
Ai!... é tão alegre esta caixinha
Que se abre e se fecha...
Que palpita sem cessar...
E se ouvirem bem os sinos a dobrarem
São cantigas que eu conto... amornadas..
Sem princípio nem fim
Sem saber onde um dia vão chegar...
Bordadas de cheirinho a jasmim
Que os moços levam ás raparigas... perfumados...
E numa troca de olhares amam se...
Cochichando baixinho... aos pedaços...
Porque... quando lhes foge o cheirinho
O feitiço acaba...

Tuesday, June 12, 2007

Esta chuva que cai...
São abraços lá de cima
Que se estendem para me agarrar
E neles me embrulho
Num sussurro estonteante
Porque os respingos que me afagam
São bracinhos na verdade...
Saudades acabadinhas de chegar
Daqueles que se foram
E que um dia me amaram...
E num incessante deslumbramento
Me deixo... quieta... parada...
E sempre... descansada...
Saudosa das memórias
Que amiúde me chegavam...
E deixo me então afagar... atordoada...
E os pingos... são docinhos de verdade...
São lábios que me querem beijar...
E nesta rua limpinha ... toda clara
Cheirando a céu lavado
Vejo me cercada por melros pretos... descarados...
Que picam aqui... protestam ali... e não percebem nada...
É uma gente estreita... que me julga inadequada...
Vejo me então... coitada... carregada... empurrada...
Por gente louca que não alcança e não enxerga nada...

Eles não vêem... eles não sabem...
Nunca estiveram no sítio de onde vim
Há muito... num dia... lá... lá... do outro lado ...

Thursday, June 07, 2007

Quente... das sombras me afastei
Na textura densa da calçada
Mas uma em mim teimou...
Fria... gelada...
Era a morte que vigiava
Sentada em gélidas brasas
E o vento agreste soprava
Acotevelando... apressando a estocada...
Ai de mim pobre alma
Pecadora ... criminosa... culpada...
A mim me vieste catar
Para tua pretensão aliviar!
Sabei pois... que a Deus confessei
Os meus delitos...
As minhas iniquidades...
E com a mente ferverosa
Com a cara pela vergonha ... contrita...
Penitenciei me... ajoalhada...
E Ele... na sua augusta bondade
Me deu por fim perdoada!
Olho te sim... nos olhos!... morte abusada!
Solta essa frieza de mim
Que o Santo me tem hoje amerceada!...

E desgarrou se a senhora assustada... daquela estéril tocada...
De dentro dos teus olhos
Alcancei montanhas de marfim
Castelos palheteados a ouro
Guardados por querubins...
E também lá avistei
Um clarão sem fim
Procurando refrescar se
Num decalque vítreo... de mim...
E no silêncio rastejante
Se enlaçava o coração
Em rezas... dizeres e orações
Das saudades que me nutria...
E os olhos vaguearam á sorte no espaço
Deambulando... chamando por mim...
Chega te amor... amor... estou aqui!

Tuesday, June 05, 2007

Deitada numa franja corada do arco íris
Se entretinha a menina com ums dedinhos gorduchos..
E da sua boquinha saíam rubis vermelhas
Balões que entregava aos passárinhos
Para enfeitar a casa dos meninos lá em baixo...
Mas um dia escapulira se a pequenina maga...
Coonsumira se o encantamento para outra lugar
E lá no ar iam e vinham as avezinhas
Sempre muito caladinhas e quietas
Sem ter nada que ofertar...
Mas um dia chegou um solinho radiante
Trazendo notícias da amiguinha que tardava
Tinha se mudado para terras distantes
Para a outros meninos ninar...
E o sol amigo aparecia sempre contente
E a todos aquecia... acariciava...
Com as suas mãos quentinhas
A que todos se achegavam...
E um dia aclarara se o mar
Brilhara a areia da praia
E os grãozinhos pareciam brilhantes
Acabadinhos de semear...
E por vezes levantavam a cabeça os meninos
A ver se espreitavam
A pequerrucha lá em cima a acenar ...

Mas ela estava sempre viajando
Pendurada em fitas
Em trecelins doirados ...
Nunca ninguém a adivinhou
Suspensa nas pontinhas das estrelas
Sempre... sempre ...
O soninho dos bébés a guardar...



Isto foi o que se contava lá num sítio onde apareciam sempre muitas cores no ar... e um dia perguntara a menina á mamã onde parava a amiguinha que se baloiçava no ar... sempre presa a ums olhos grandes que não a deixavam tombar...

Monday, June 04, 2007

Ama me quente no estalo do teu cansaço
Na derradeira firmeza do teu vale encantado
E na enturvada bruma que nos abrasa
Cerro os olhos... nesta viagem sonhada...
Ama me... na mestria desta dança aprazada
Que me afaga e me agrada...
E na pulsão crescente do meu âmago
Vejo te radiante... os olhos a cochicharem
O quanto me queres... o tanto que me amas...
E num jogo baralhado de suspiros
Abraçam se linhas ... curvas... cores...
Sotam se frescuras na pureza do ar
E é aí que te colho... amor esquivo e fugaz...
Coando te no ar... vibração turbulenta...
Assim... no contorno aprumado da minha afeição...

Saturday, June 02, 2007

Soltei me da méscla incadescente
Da amalgama indesvendável
De quem me formara...
Numa consistência esmerada
Na medida certa... na exactidão perfeita
De Quem... no ínicio do tempo me imaginara...
E na demorada despedida... me foi concedida
A inteligência espírituosa de a todos animar...
E depois... num vôo celestial... envolta
E apertadinha em doces fragrâncias
Fui descansar... sorrindo da nobre aterragem
Num cantinho aconchegada...
De quem... já me prometia amar...

Viam se muitos corpos
Do lugar de onde me mandaram
Havia os brancos... rosinhos... pretos amarelos
E todos misturados...
Enfrequeciamo nos então em airosas risadas
Na observação cuidadosa
Das nossas vestes pintadas...
E depois súbitamente... amansou se aquele fogo
Que começava a desmaiar...
Moldando sorrisos e candura nos olhares...
D'Aquele... que no sossego nos amara...
E foi nos recomendado baixinho
Muita... a valentia a ter...
Aqui por estes lados...

Mas isso foi muito depois... após muito cansaço...
É que um dia nos lembrámos do tal sítio
E da generosidade de quem... para este lugar nos mandara...

E enchem se igrejas... mosteiros... capelinhas e catedrais
Pedindo perdão ao Criador por... o pacto ter falhado...
Mas o Senhor na sua benevolência extrema...
A todos um dia perdoara... sim... sim...
Mas só os eleitos... os arrependidos de costas arqueadas
Benditos sejam eles... nos braços do Senhor...
Que... na sua pureza nos criara para o amar...
E nunca sentiram os homens... nunca viram...
No coração do semelhante
A marca de Progenitor
Que para cá os mandara...
Mataram se... golpearam se... degolaram se
Por séculos até não poderem mais...

E na certeza santificada de Seu propósito
Conssentimos todos em iniciar a viagem...

Friday, June 01, 2007

Abriu se num abraço voluptuoso
E todos nela se ajeitaram
Porque era quente o peito
Daquela... que por eles chamava...
E numa corrida desenfreada
Carregada de emoções
Acolhera ela a meninada
A quem a vida toda amara
Para quem toda a vida cantara...
Em abismos silenciosos de nada...
E num descanso apetecível
Se ergueram para ela as feições
De quem... dela algo mais esperava
Para além das acostumadas canções...
Chegara a hora de se amarem
Vinda a noite sossegadinha...
E em braços gordos os apertava
Todos muito aconchegadinhos...
E do peito farta lhes cochichava
O tanto... o muito que lhes queria
E dito isto... em termos benditos
Se ia a meninada a dormir... toda juntinha
Por cima da palha seca... todos enroladinhos
Saciados do peito... amores encantados...
Enfeitiçados... do arrebatador afecto
Com que a mãe sempre os brindava
E que para eles vivia ... e que por eles sonhava...
Sempre... sempre... sempre cansada...

Do pai não se constava lembrança depois de se ter ido para a frente lutar...
Esperam no por meses... por anos... e para ela os deixara... totos... todinhos...
E a mãe nunca se lamentava...