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Sunday, June 25, 2006

As pedras da calçada
São pequeninas
Para que os meninos
Que sobre elas caírem
Não se poderem aleijar...

As conchinhas do mar
São redondinhas
Para caberem inteirinhas
Nas mãos dos meninos
Que com elas brincarem...

Os saiotes da mãe
São de chita e bem compridos
Para os meninos
A eles se agarrarem
Não vá o vento levá los...

E os pássaros cantam
E as flores riem
E a lua fala lhes de mansinho
Para que de noite
Embrulhados no sono
Os meninos possam sorrir...
Quando eu era pequenina
Olhava para as estrelas do céu
Sentia lhes a força do rio
Sorrir dentro de mim...
Deixava o vento brincar
No meu corpo menina...
Meus sonhos eram fugosos
Atravessavam fronteiras proíbidas
E a razão enigmática do porquê
Era fácil então...

Morri a seguir...
Ó rio que passas...
Tão lento..tão vagaroso...
Levas a alma do meu menino
Envolto num sono profundo...
Ó águas quentes do sol
Embalei de mansinho
As mãozinhas...os pézinhos
Daquele que se deitou
Em ti a dormir...
E não me acordes o querubim...
Foi a curiosidade que me o roubou
O peixe vermelho piscando o olho
Me o enfeitiçou...
A barbatana brilhou á luz...
E catrapuz...
Ó rio tão sossegado que és
Ó rio tão molhado que és...
Não constipes o corpinho de setim
Tão fino e mimoso...
Porque me o levaste assim?
Ó águas brandas do paraíso!
Levai me também a mim...
Para ao pé do meu menino....

E a mãe contava tudo ao seu anjinho...
Debruçada por cima do espelho frio...
Chegou o dia em que partiu...
Vive agora em terra desconhecida
Amamentando o seu menino...

Verdade verdadinha!!!
Acharam me no céu azul de verão
Nas ondas curtas do mar
Fui deixada na areia fina da praia
Nasci de uma concha luzidia...
Lamberam me o gosto salgado
Das trevas submarinas...
Porque eu...fui achada no chão...
Quem sabe...
No passeio vizinho
A lágrima feita perdão
Na boca dos namorados...

Saturday, June 24, 2006

Dai me rosas para cheirar...
Brumas de mar para me embrulhar
E nos caminhos que abraçam a serra
Na terra tenra da alvorada
Dai me recato...pousada de longa viagem
E num sono carregado
Dai me a ternura de um abraço...
Porque as rosas que estão em mim
São sonhos que trago por recado
De gentes que daqui partiram
Da multidão de mim apartada...
Essas rosas aí pousadas
Trá las para meu regaço
Tenro dos sorrisos ...de gargalhadas...
E na guarda demorada
Debaixo de um céu pintado
Que se misturem as cores
Na frescura alva de minhas mãos
Para...quando te as entregar
Te possa chegar á memória
Frescuras dos beijos trocados então...
Pois...que estas rosas que eu carrego
Naceram das reminiscências da aurora
Que trouxe na sua língua
As águas verdejantes do paraíso...
E chegando se cautelosa
Num arrasto longo e melífluo...
Saudade broslada...
Na serenidade do rosto caminhante
Me enterro...inteira...
Estafada da caminhada...


E demorou muito a menina na entrega...ainda anda por aí...atarefada do recado...
Tudo se desregula...
Porque na verdade tudo é confuso...

E a menina dançava alegremente
No encalce da sua sombra
Na firme teimosia de lhe cobrir a face
Procurando companheira para folgar...
E.. no ensaio de uma brincadeira
Que desejava serena e aquietada
Corria desvairada na caça desassossegada
Da mancha fugidia que a olhava
E na euforia da presa que lhe escapava
Tropeçou leve...na interceptação da luz a seu lado...
E nos sombreados que seus olhos faíscavam
Deitou se a afogar se...
Baixou se devagar...
E com as moãs pousadas de lado
Entreteve se longos minutos...rastejando...
Na pista da amiga que se desviava...
Sobreergueu se...desajeitada...
E abrindo a boca num jeito avisado
Acenou com a mão á menina
Que não se queria aventurar...
Pôs se então a ninfa a rodopiar
Entretendo se numa dança afinada
E da sua boca saíam melodias lavadas...cuidadas ...
E na pureza de um cântico emaculado
Apresentou se ao corpinho amedrontado
E que não se chegava...
Atirou lhe bolinhas brancas, rosas e azuis...
Beijos redondos que rebolavam...
Estalando de leve por cima do chão malhado...
E batendo palmas
Regozijou se a donzela
Das pazes com a amiga concertadas...

Por vezes...quando atristada...só...era a ela que se confiava...

Thursday, June 22, 2006

Na ausência hermética
Do seu amor que partira...
Viajou na fenda da noite
Arrastando a larga cabeleira
Drapejando saudades no vazio...
Varreram lhe os olhos
Pelas montanhas do paraíso
E em jeito de ressurreição
Gritou desesperadamente
O nome tanto almejado...
Vieram cometas viajarem a seu lado
Darem lhe a mão...
E no desespero que a acometia
Deslizou devagar
Para dentro das bocas rosadas
Alisou seu corpo num jeito recatado
Viajou pelo espaço...atordoada...

E assim foi por dezenas de séculos afim...sem nunca encontrar o seu amor...

Wednesday, June 21, 2006

Voltaram os anjos...
Romperam as minhas noites
Encheram os meus sonhos
E numa dança compassada
Assisti lhes a chegada...
Viajaram rápido...
Há tanto de mim apartados...
Amantes de longa data...
Enchem me de carinhos
Dizem me ter por sombra achada...
Contam sentir dentro da cabeça
Ecos das minhas passadas
E no peito...rastos de noites...
A eles encostadas...
Fora eu estrelinha
Aquecendo lhes a morada rosada...
Desceram no trilho
De um choro desconfortado
Vieram os amores alegrarem me...
Vieram os meus anjos...
Os meus meninos doces
Que não se cansam de me olhar
Que não se cantam de cantar...
E nascem no meu peito
Serpentinas de alegria
Rodas de meninas
Que não param de dançar...
Apareceram numa noite de luar...
E num longo e murmurujado atito
fizeram se anunciar
Carregando nos braços
Fardos de roupagems
Em que me embrulharam
Fiquei parada
Deixando me adornar...
Foram mimos requintados
Aqueles com que me enfeitaram...
E não se cansam de sussurrar
O tanto de afeição que me guardaram
E eu, num querer redobrado
Atiro me nos seus braços
Dando lhes os meus
Para descansarem...
E o carinho que desenrolam
Por cima de meu corpo gelado
E os beijos que repicam na almofada
São estrelinhas que sobem...
Que tapam o céu ...
Num manto dourado...
E sob a chuva benfazeja
De aromas e beijos
Me deito a descansar...


E foi sempre assim durante cinco séculos...a menina nunca mais esteve triste....
Ausência...

O tempo escorre por mim
Como a água no ribeiro...
É o tempo que por outros já passou
E que para longe de mim levou
Aqueles que a luz viu um dia...
Aqueles que a noite amou...

Tuesday, June 13, 2006

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Friday, June 09, 2006

Numa reza que se perpetuava no infinito
Arrancou de dentro de si
As amarras que o prendiam... pesado...ali...
Esvoaçou num trinar suave...
Num memorial momento de vontade...
E num gesto recatado
Baixou a cabeça
Abriu o peito num sulco deleitado
E voou para o além
Para fora do tempo...
E na onda magnetisada...
Despojou se de ânsias...
Deleitou se no espaço sideral
Pernoitou nas vagas insolúveis
Do desmedido...ao seu alcance...
Despojou se das terras e castelos
Ajustou a sua beleza aos demais
Renunciou aos prazeres carnais...
Desejou se míster com o céu
Acendeu velas no peito
Iluminou caminhos escondidos
Para encontro de suas gentes...
Apartou se de si
Para melhor ver o outro
E tudo o que por ele volteava
Num feixe dourado se tornou...
E numa versatibilidade
Até então desconhecida
Passeou se
Por dentro dos infelizes
Enterrou a face
Nos verdes...nos azuis
Dos demais que ali pernoitavam
Dos que por ali o procuravam...
Ofereceu ás gentes desconhecidas
O corpo os braços as mãos...
Por si entrou toda a inquietação
Das gentes que para ali chegavam
Aqueles que seus olhos alcançavam
Numa dança infinita de cuidados...
E da serenata cândida
Que deslizava
Por debaixo da mão
Por entre a pele morna e doce...
Dos recantos do seu coração...
Nasciam flores ás dúzias
Que pousavam leves...
E a alma falava-lhes
A palavra sábia da reconciliação
A nobreza...a sensatez do perdão...
E na procura ostensiva
De cobrir com o olhar
O véu de dor que por ali passava...
O bom do Samaritano não se cansava
De colher com suas mãos
Faces doridas...corpos cansados
E da sua boca saíam palavras
Que de mansinho
Se encostavam á razão...
E num todo de amor
Se abraçava aos que por ali andavam...

Foi assim na aurora deste tempo... Beati pauperes spiritu!!!

Friday, June 02, 2006

Oh pai!Oh mãe...
E o menino não pedira nada...
Só se embrulhava desde que nascera
Na musicalidade da palvra sussurrada
De mansinho...encostado ao peito de sua mãe...
Da cara leste de seu pai
Ele nascera príncipe...
Rei dos seus sonhos...
Arbitro das suas vontades
Nu...
Mãe...vede me...
Pai...escuta me...
Mas ninguém olhava
Para a sementinha ali pousada...
E os olhos falavam tristeza
E o choro acordava consciências
Num tumulto ensurdecedor
Num chamado desesperado...
Mas poucos eram os que viam
Poucos eram os que ouviam
E o menino foi crescendo desamparado...
O príncipe do nada...
E o menino olhava atento
As estrelas que lhe cantavam
Para dentro da cabeça redonda
Pois eram bonitos os sonhos
Eram ágeis as palavras
Que por lá se balbuciavam...
E lindo era... o principezinho do nada...
Varriam lhe os olhos de noite
Os astros mansos e reluzentos
E o menino carregava o seu olhar
Para dentro dos ventres gordos e cheios
Daquelas belezas...
E não parava de sonhar...
Vira certa noite a lua encostar se
Com jeitinho...
De contra sua face fresca e ossuda
Sussurou lhe por dentre os lábios
Uma cantiga de embalar...
E nessa noite atreveu se...
Menino único...
A dormir com a lua a seu lado ...
E tudo se jugou naquele par de horas...
O astro de mansinho lhe brotou
Para dentro da cabeça fofinha
Os sonhos que ele haveria de ter
Os sonho que haveria de acalentar
Os sonhos que ele poderia alcançar
Os sonhos que uma vida levaria a concordar...
E o menino de manhã...
Levantou se cedinho...
Estranhou o vazio do ar...
Sentou se atordoado...
Virou a cabeça para o céu
E levezinho...acenou com a mão
Agradecendo a ajuda
Das histórias por ali contadas
Dos segredos ali confiados ...
Nunca mais estaria sózinho
Aquele menino de encantar ...
E foi num súbito trémulo
Que sentiu a alma para si voltar
Umas das muitas...perdidas...
No paraíso...
E o menino vestiu a camisa...
O vestido leve da vontade ...
E em longos saltos
Cercou o mundo...
Com os olhos grandes que trazia
Abraçou as tintas que o universo trajava
Bebera as cores que por ali voavam
E o menino...nem borboleta airosa
Ganhou asas para voar...
Ele...o Príncipe do nada!!!