páginas brancas

Sunday, March 25, 2007

Quer tudo para si ... a impudente ...
Quer tudo abarcar
Num folguedo abrasador
De caprichos insensatos ...
E na dança fustigada que ensaia
Abrasa se lhe o coração danado
Numa dança abeberada de desejos
E no torpe seguro de seu manejo
Adivinham se lhe rastos malignos
Das gentes trapaceiras
Querendo a outros enganar ...

É vê la ... pesada do provimento
Do tanto em si se empanturrar
E no desmaselo da passada
Não enxerga no céu
O Criador a observar ...

Vai ... vai ... triste criatura
Teus bens amealhar ...

Amiúdou se lhe um dia o passo
No andanço ... de a tantos tirar ...
Não chegou a tempo á acrópole
Para a Deus se recomendar ...

Partiu sózinha para outro reino ... triste ... do tanto deixar ...
Trataram logo outros abutres de a roubar ...
Causa mortis ... ganância ...
Falhou a impudente uma cláusula suprema ... culque suum ...
Sou menina ... delicada ...
Metamorfoseam se em mim vontades
E na efluxão radiosa do espírito
Na vertigem permanente que me cobre
E que em mim cabe ... pequenina ... veloz ...
Sinto ... erguer se em mim ... luminosa ...
O vento inquieto que agarra e sequestra
O cochicho surdo da verdade ...
E na coincidência exacta da revelação
Atentam em mim mil cuidados ...

E tudo acontece na sublimação caprichosa de um desejo fantasioso ...

Saturday, March 24, 2007

Cheguei do país
Das essências abundantes
Branquinha dos cheiros ...
Das flores de lá ...

Prometeram me amor
Amor ... onde estás ?
Abraço me á fina tez
Ao pálido tinto do luar ...
Venho de lá bem longe
Do outro lado do mar
Onde crescem frutos
Dos braços de frescos mangais ...
E são belas as pedras que brilham
Que ofuscam o olhar
São os olhos de Deus
Que nos querem abençoar ...
Vim para aqui ...
Cheguei ... para cá morar ...
Onde estais vós
Que me prometeram encontrar ?
Vim ... vim ... para cá ficar ...
Onde estais ?
Onde estais ?
E ela encontrava gente
Gente de atamancar
Desaires nos propósitos
Infortunados na alma
Desgraçados ... apoucados no dobrar ...
E não se seguiu nunca
A alma de seu par achar ...
Nasceu nela outro dia
E amanheceu a lamentar se ...
Enchera se de ânsias
Por quem a pudesse abraçar
A quem quisera amar
A quem não ouvira o suspirar ...


E de noite não se podia dormir na serrania , que ficava juntinha ao luar ... por causa de uma donzela que não parava de chorar ... e foi assim por séculos ... até ao dia que Anjos a vieram buscar ... Branca era seu nome que ficou para a eternidade ...
Olhem a violeta linda
Que deita a cabeça cheirosa
Na mão ciosa
Que a quer agarrar ...
Olhem na ligeira e doce
Amansando rostos
Sossegando desvairos
Sombra emprestada
De uma menina que queria vir
Mas não podia voltar ...
De branco vestida
Dançou no regaço
E de cheiros se entretinha
Afeiçoando recados ...
Poucos viram a menina
De rosto claro ao luar
Emanando sorrisos
Balbuciando palavras
Desvendando segredos
Mostrando pontinhos no céu
A quem ... a si se quisesse juntar ...

Tudo enegreceu á sua volta ...
E voltou para o seu lugar ...

Vejam as meninas nas flores dos vasos !!!
Sintam ... os corações que batem !
Vejam os meninos nas flores dos jardims ... nas flores das matas !
Vejam !!! Vejam !!! os corações que batem !!!
Vem ... oh Mar !
Para dentro de mim pernoitar
E na singeleza do teu olhar
Respinga se me a alma contente ... serena ...
E na vinda aguçada ao teu chamado
Possa eu mergulhar na benegnidade
Na doçura da tua frescura amena ...
E que venham também essas pérolas
Que por cima de ti cirandam ... fugosas ...
Me adornarem as mãos ... vaidosas ...
E vede ... por dentro do clarão argento
Em que me banho ... flutuo contente ...
Acenando te ... misteriosa ...

Acheguem se a nós as estrelas !
As damas ... cavaleiros ...
Vassalos e Reis
Que na eclipse terrestre da morte
Em ti se estenderam ...
E possas tu ...
Na dilatação das tuas dobras
As regurgitares ... clemente ...
E num frenesim anunciador
Aclama essa vontade ...
Que se abram alas
Que se toquem trompetas
Que os Amos ... a sua casas andem
Trazendo consigo ...
As donzelas entorpecidas
Desfalecidas no engano !
Oh Mar alvoraçado
Dai lhes descanso !

Vem ... vem ... oh ! Mar troncudo !
Troteando a tua canção gorda
E em mim descansa ...
No resplandescer do meu fogo
Na ruga do meu descanso !

Thursday, March 22, 2007

Agarram se á terra os pés
E no ar flutuam desejos
Ateimam se pretensões
Activam se vontades
Porque não é difícil andar
Não custa caminhar
Mas as ideias que persistem
As que se baralham
Que teimam na lembrança
O juízo nos pode ceifar ...


Um dia quis um menino
Tapar a cabeça
Para as não deixar voar
Ficaram entaladas .. aflitas
Sem poderem respirar ...
Enfiou um boné
Pôs se a andar
No caminho encontrou um amigo
Mas não o pôde cumprimentar
As mãos por cima da cabeça
Os olhos curvados ... cerrados ...
Andou ... andou até se cansar
Mas veio a hora do descanso
Teve de os braços baixar
E sentiu de dentro de si
Um sussurro pequenino
De quem se estava a magoar ...
Entendeu a tempo
Que a alma não se podia aprisionar
Que a teia multicolora dos enseios
Não se podia aferrolhar ...
Caminhou leve a seguir
Ágil se viu uma tarde
Levado por umas asinhas
Que o puxavam ... que o levavam ...
Para lá ... por aí ...

Tuesday, March 20, 2007

Branca ... suspirou de ânsias ...
Lamentosa ... solitária ...
Consentiu em iniciar a viagem ...
Sabia se singela na pureza do seu recato
Na mansidão de seu apascentar ...
Não reparara nunca no estudo minucioso
Dos que a queriam abocanhar
Nas pregas apertadas da vida
Nos espaços atravancados ... ruidosos ... do amar ...
Mas Branca ... ninfa ... conversava ao luar
E chamava a si águas santas para se apurar
Pois que em si ... adivinhava ardores calorosos
E que a alma se lhe podia atraiçoar ...
E na fineza súbita de um desejo bravo
Uma noite abriu ... alvo ... o seu peito a Deus
E deste mundo se quis apartar ...
Destinou se a donzela aos céus
Aos Anjos do Criador que a haveriam de ninar ...

Viram na de longe ... amantes , beijando se na enseada ...

Estendendo os braços a Nosso Senhor que a veio buscar ...
Só existe uma dança ...
A do meu pudor ... desvirginando ...

Monday, March 19, 2007

Na intercisão do tempo me diluí ...
Voltei ... melíflua ... no vento ...
Dar me a cheirar ...
A quem me quisesse ter ...
Me quisesse encontrar ...


Mas há sempre gente que não consegue esgueirar se ...

lá sol fá sol
Sol ré mi si dó
Fá mi ré mi si do sol lá
Re dó si dó sol lá mi fá
Mi ré do si lá sol si dó ré mi
Fá mi ré dó ré mi fá sol
E foi assim ... a noite toda
De cada curva de seu corpo
Ecoavam magistrais harmonias
Intercorriam feixes luminosos
De olhos deleitosos do tanto ver ...
Árias entalhadas ... cinzeladas ... embutidas
Lavradas na arejada frescura da mente sábia ...
E cantou se ... e tocou se por toda o reino
Excertos do excelso prestidigitador ...
Numa troca de olhares
Removem se montanhas
Sacodem se altares
Amansam se vontades
Desbravam se caprichos
Plantam se vontades ...

E foi assim que cresceu a menina
Sempre e sempre acotevelada pela gente
Por essa gente que passa e repassa
Mas que não diz nada ...

Valeu lhe a bebida fresca do vento
Na face corada ...

Friday, March 16, 2007

Que saudades tenho Deus meu ...
Que saudades tenho daquele colo pequenino
Onde eu cabia todinha ... inteirinha ...
E nas mãos quentes que seguravam
Ficou o molde frágil do corpinho de então ...
Ai ... as saudades que tenho meu Deus
Do ar morno que me envolvia
Da brisa repicada dos beijos seus
Que se entretinha ... folgando ...
Passenda ... alada ... sobre os olhos meus ...
E ficaram em si a luz que brilha
Irrompendo ... curiosa ... os olhos seus
E afirmou se nele ... teimosa e constante
Num arco redondo ... generoso ... que o amimou ...
Ai nesse colo leve ... breve ...
Alongaram se lhe o corpo ... os braços
E abriu se o coração devagarinho ...
E ficou impregnado em mim
Os cheiros finos do regaço seu ...
Ai ... as saudades que tenho ...
Momentos que passam e não vêem ...
Singilezas ... lembranças ... subtilezas
Dilatam se na minha alma !

Tuesday, March 13, 2007

Chamou me a Primavera
E acha se em meu peito
Pequenas flores nascerem ...
Que me estarrecem ... me enfeitam ...
Ai ... se apresente depressa esse beijoquinho
Se alise em meu corpo perfeito ...
E em jeito de passarinho
Sobre a nuvem clara de meu peito se deite ...
Ai ... que comece a Primavera
Essa cascata fresca ...
E que venha bem cedo e alegre
Meus lábios ruborescer !
Nesta vida temos de levar com tudo !
Com o vizinho com a vizinha
Com o tio com a tia
Com a avó com o avô
Com o pai e com a mãe !
Nesta vida despiedada
Nada se compadece
Ninguém rejubila
Com a tristeza com alegria
Com a ternura com a raiva
Com o tanto de cada um
Com o pouco do nada !
Nesta vida nada importa
Se o tudo é a menos
Se o pouco é a mais !
Pois que na bastança
No sobejo tudo se amolece
E no nada tudo se achicalha !
E nos despojos da vaidade
Todos se queixam
Todos de embalam
Virados pr'a dentro
Virados para o nada !
E resta nos o lixo exímio
Das bagatelas das inanidades !
E na busca pródiga dos nossos caprichos
Nas fragilidades do nosso desfibrar
Rezam se Pais Nossos Avés Marias
Sempre ... sempre ... cá em baixo ...
Andando ... desmanchando nos ... a rastejar ...

Sunday, March 11, 2007

Tudo é azul por minha volta !
Quer me abraçar na candura
E da cor celeste se veste ...
E ... escorregando em desvelos
Se apresenta o ditoso ... o casto ...
Que há muito meu coração ama ...
Vinde ... vinde ... azul amoroso
Me dar a cheirar a tua cor ...
E na méscula sonora que me toca
Vejo ... raindo de tua boca
Ressoando ... ecoando ...
Consonâncias que se amam ...
Olha pr' aqui ! olha pr' ali !
Anda ! vem !
Calo me e não digo a ninguém ...
E é um ir e um vir que atormenta
E o pensamento detém ...
Querem me detergir ... afoitas ...
Estas vozes que se erguem
Largas e tronchudos ... estatelando se
Nas curvas rectas do meu andar ...
Nas curvas alinhadas do meu pensar ...
Olha as coisas direitas !
Olha as como convém !
Mas quem te diz a ti
Que é assim ... que é também
Que elas caminham para mim ... veem ...
Que aborrecimento este que me contém !
Ouve ! ouve bem !
Oh ! tu daí , escuta , escuta bem !
Que eu almejo em ti desinteligências
Contendas de teu desdém !
Que eu atento em ti
Coisas do teu desditar !
Oh ! tu que me agastas
Torna os olhos sobre ti !
E se os voltares p´ra min
Que te turve a vista
Que eu te atropele o olhar
Que sobre mim deténs !

E tudo se disse numa troca subtil e esforçada de advertências ...

Wednesday, March 07, 2007

Vejam as cores contentes em minha face
Encomenda de um tal donzel
Que me as mandou entregar ...
Foi galanteria na certa , tal coisa me emprestar
Pois que eu sou donzela
E aceito as para me enfeitar ...
Acorra ... se achegue aqui depressa
Senhor airoso ... deleitoso ... delicado ...
Na lembrança agradável que teve ...
Pois são as cores que há muito procuro
De um retrato visto ... e aprovado ...
Vinde pois amigo ... meu olhar
Com teu fulgar me enfeitar ...
Vede me ... brandinha nos olhos
Boquinha gulosa ... abençoada ...
Vinde ... pedras preciosas
Meus cabelos enfeitar ...
Venha daí esse galante
Habitante de outros mares
Que minha excelência desconhece
Venha meu jeitinho provar
Que eu sou fina donzela
Nascida ... pucela ...
Manifeste se pois senhor ...
Para ... donairosamente me cortejar ...