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Thursday, July 26, 2007

Num frémito desolador
Na finda esperança... e na condolência do Senhor...

Num gemido tormentoso
Na erupção arquejante de sua aflição
Atirou se ... suplicante
Para o colo de sua dor... lancinante... a estocada...
E na rudeza de quem a assaltava
Fez se redonda ... transparente...
E dispersou se ... achatada...
Por dentro das brumas do paraíso...

Começou para ela... o tempo da abastância...

Friday, July 20, 2007

Corri muito tempo ... sempre com a eternidade á minha frente...
E por detrás da fluidez que não parava nunca de cursar
Desconsolada... continuava a deslizar atrás da fraudulenta...
Querendo a agarrar... aprisionar... perseguindo a até me esgotar
Bravateando a folgazona que de mim se entretinha a me amedrontar
Amassando... achatando descaradamente os sonhos que eu tentava enlevar...
Desvirginei sombras perdidas... enfrentei ventos cobardes
E desfilando nas correntes esbatidas persegui a até me cansar...
Desafiava gentes a corromperem se... outras vezes... a emendarem se...
E um dia deixei de lutar... tecemos um pacto de vida
Pedi licença para viajar... para o outro lado do mundo... longe de seus olhares...
Que me deixasse quieta a seu lado num sono sossegado... aquietado...
Conversámos ás escuras e ficaram concordadas tréguas até ao seu regressar...
Ai... eu andei sempre contente e segura
Tendo a fiel na sentença... sem nunca desconfiar...
E com ela me entreti em pensamentos
Sem nunca almejando o meu findar...
E ela ria se de mim quando eu chorava
Porque nas suas teias me entrenhava sem pensar
E abusavam na minha alma contrevérsias
Querelas... que no seu querer me iam matar...
E um dia descobri que no vazio dos dias e das noites
Que nunca param de girar chegaram os homens e as mulheres
Para me contestarem... tudo lérias...historietas... falácias...
Fanfarrões... palermas...para me enganarem...
E eu fui a andorinha pequenina que se deixara apanhar
Nas idas e vindas de seus passos manhosos e leves
Que me queriam desacreditar...
Que me desejavam ao contrário...
Todos cúmplices... ardilosos e astutos ...
Só para me poderem gozar...
E eu fui deixando...
E eu fui escorregando... porque ouvia risos
E embalava me na louca alegria de os poder escutar...
Porque tomava lhes o escárnio por doces cantares...
Pois é... o inocente nunca vislumbra na alma de outrém
A mancha rançosa da ignomia... viscosa... a sangrar...
E nos tempo nos balançamos em ilusões e propósitos...
Sempre... sempre... recomendando nos a Deus... que nos resguarde...
Eu vim com o propósito de ficar... inocente no meu deambular...
Ofereci prendas aos meus amigos...
Beijei pais... irmãos e toda a irmandade ...
E um dia... surpreendida... chegou o meu aliado dos tempos idos
Num ronco ensurdecedor... abicando para me arrebatar...
Que o contrato estava findando... que tudo tinha acabado...
Firmei me segura na ténua lembrança... memorando o acerto combinado
E chicoteando me firme... levou me para outros lugares...
Ai... esse tempo que corre... que trepa sem parar...
Que nunca se esquece de ninguém... que corre... corre sem parar...

E a gente deixa se sempre... sempre levar...

Mas quem muito pede
E na benignidade se afirma...
Na demanda da excelência graça
Ao Altíssimo Santo do Altar...
Se encontrará com ele um dia
E em braços longos e meigos
Em colo terno e abrilhantoso
Se deitará um dia a dormir...

Oh! honroso e deleitoso desejo...

Pater noster qui es in caelis
Santificatur nommem tuum
Adveniat reginum tuum
Fiat voluntas tua
Sicut in caelo et in terra...

Thursday, July 12, 2007

Eu não me tanjo aqui...
Sou do outro lado do mar...
Cheguei com as nuvens cheirando a especiarias
Derramando em mim iguarias... paladares...
Descansando nos cumes das montanhas
Semeando por lá sabores delicados
E loucas... nobilitando se em mim... sempre a dançar...
Eu nunca pedi... nunca fui consultada
Para aqui dormir... para aqui ficar...
Trouxeram me enroladinha daquele sítio
Para permanecer aqui sózinha... saudando me... a fraquejar...
A minha cepa vem das terras quentes do outro lado
Voou num rasto de siroco
Cravejadinho de aromas latejantes
De tâmaras doces recheadas... empacotadas
Para o festim que um dia me será anunciado...
Ah! Bálsamos delicados que em mim se entrenharam...
Porque... do que eu gosto mesmo
É do céu apascentoso e azul... e daquele brando mar...
E fizeram me branquinha
Da cor da tela do ar...
E nas noites volatizo me para as vielas
Para as casas que não existem cá...
E visto me riscada... alongada... abotoada
Sem pavores... sem nada...
E deixo me vaguear pelo extenso chão
Da eternidade que me arrancou de lá...
E é sempre assim... cheirando á cal quente
Do meu bairro natal... estátua alva e pura
Que se ergue lá longe... para lá das terras do mar...
Cheiro ás areis húmidas e quentes do Sara
Que me têm de dia... por cá...
Porque de noite eu rezo a Alá... o Altíssimo
Para que um dia me leve para lá...
E nos céus sobem esplenderosos cantos
Que me ensinaram um dia a rezar...
E alteiam se os olhares ... e descansam as almas
Na audição pura de minhas preces aprimoradas
E na observação atenta do povo que passa
Almejo gente perturbada... emocionada... a chorar
Desçam pois sobre nós os tintos claros da palavra
Ágil e forte que nos tem por cá...
Eu vim sózinha... destemida ... sem corar
Porque
Tudo voa em meu redor...
Mas nada escuto... nada oiço...
Só o silêncio casto e puro
Escovando as flores lindas... prateadas...
No meu ânimo nada estremece
A não ser o sossego branco dos astros
Apelando á bondade enterrada
Nos peitos desfavorecidos de graças...
No descanso do corpo nada almejo
A não ser a pausa merecida... soletrada...
E é no silêncio pálido que estremecem os sentidos
Daqueles se acobardam... dos que se desgraçam...
Mas eu fecho os olhos e nada vejo...
Nada escuto... nada faço...
Deixo me enlevar num sopro quente
E fico a levitar no ar... tranquila e serena
Sem pestenejar...

Wednesday, July 11, 2007

No contorno do meu corpo menina
Vejo me rosa... púrpura... jasmim...
E num véu me deixo ficar...
Donzela... só para ti...
E refrescam se os tintos amorosos
Na aragem pura de um beijo...
E nos céus voam pétalas...
Vestes ágeis de um meu ramo...
Agarra então... agarra te bem...
E não te fujas de mim... carinho...
Que este aroma nos estonteia ...
É o regalo do meu no teu
Enrolando se nas vestes minhas...
Encobrindo o dia pequenino
Espreitando a noite que vem...
Ajunta te a mim... meu bem...

Tuesday, July 10, 2007

Dizem me ter um clarão no olhar...
Mas que estranheza é esta?
Serão as estrelas que se achegam a refrescar
Ou a brisa do mar que se vem nele espelhar?
Não pedi nada para ostentar
A não ser nas preces comedidas e discretas
Que as benções se derramem sobre todos
E que se assentem todinhas
Em lentos despertares... singelos e tranquilos
Amenizando a dor dos columbinos...
Mas então que luz será esta
Que por dentro de mim escoou ?
Serão as lágrimas derramadas de um anjo
Que um dia de mim se apartou?
Derreto me em sorrisos singelos
No presságio oculto do meu enlevamento
Um dia para o céu...
Deixarei cá esta fonte que em mim rebrilha
E este fôlego que em mim se espanta e se acende...
E mais vos digo ... este clarão que vedes em mim...
Sáo ternuras de Nosso Senhor....
Que vejo... na suspensão do meu brotar...
No dia que se me fecharem os olhos
Não vou afatigar me a debater me...
Diluir me ei no azul brando que penteia
A fina aragem branda que me sustenta...
Eu vou partir com o coração crescente
Bem querendo a toda a gente...
Recomendando vos ao Esplenderoso Supremo
Mas até lá... que os meus pés se fiem á mais delicada tela
E que da minha boca ecoam serestras
Para glorificar o Senhor
Que por todos nós espera...

No dia em que se fecharem os meus olhos amor...
Quero te por perto...
Para sentires na tua... a minha mão leve...
E num teu último beijo... o olhar de teus olhos sinceros...

Mas até lá... recebe o meu amor...

Saturday, July 07, 2007

Se me quiseres meiga
Não te altere o tom da voz
Que em mim cansa e dói...
Mas se te tiveres por cansado
Retira te de mim num escoar silêncioso
E se por acaso o afecto por mim tardar
E se a moleza dos teus olhos nos meus
Se apertar numa fadiga que se arrasta
Que cansa e arrebate...
Então vai te...
Para longe de mim te asossegares
Porque eu... nas noites dilatadas
falhas de teu terno palpitar
E na delonga ansiada de teu despertar
Terei o um anjinho cantando para mim
Uma canção de ninar...
Se adormeceres no meu colo
Te afagarei os cabelos até me cansar
Até que o meu afago se misture
Com o ritmo do teu cochilar
E no teu esquecimento estarei atenta...
E num sorriso desafogado
Te acariciarei o rosto... as mãos
E os olhinhos fechados
Pois que já se soltaram de ti em sonhos
E andam por aí a navegar... curiosos... sem parar...
Então deixar te ei ali... flutuando no espaço...
Fortalecendo te na candura do tempo ousado
Derramando sobre ti benções e recados
E espiando o tempo implacável
Que todos os dias te arranca de mim...
Mas que te deixa sempre regressar....

E isso pensava a mãe cada vez que pousava a cabecinha farta da sua menina... em roupas lavadas... e sempre e sempre se demorava mais... pois sabia que não seria sempre assim...

Thursday, July 05, 2007

já ouviste amor...
O rouxinol que canta?
É hino puro vindo lá do alto...
Do peito de Nosso Senhor...
E ninguém liga... e ninguém repara
Nesta época estival... redobraram se os sonhos
No calor de Febo que nos espreitou...
E nas asinhas tenras que se abrem ...
É num abraço que a se voz lança
Em recados da paz... de amor
De quem para aqui o mandou...
Oiçam todos... o chilrear do pássarinho
Que conversa... palra e encanta...
Amor... pousa em meus lábios um beijo teu
E cheira me... adivinhando me o gosto meigo
Dos morangos acabados de colher...
E no caminho que me leva a ti...
No enlace dos meus braços ... já nos teus
Que eu te possa auscultar o Astro rei dizendo
Vem... vem... achega te centelhazinha brilhante
Para na ardencia do meu colo permaneceres...
E o diadema de teus brilhantes refrescar se á no meu...
E quando tiverdes os meus lábios juntos aos teus...
Que se despregue então aquela aragem branda
Que há tanto chamava por mim... por ti... ausentes...
E nas costas de uma chama doirada soltar se ão risos
E por meio das brumas escurcidas da saudade
Encontrar me ás azulinha... cor do paraíso...
Tinto aromatizado... estonteante...
E no beijo trocado... puro... amor dilatado e alastrando...
Que se troquem pois essências... perfumes... incensos suavizantes...
E na animação da boca tua na minha...
Que me revistes... me enfeites de fitas... coroas e tocados
Para te lembrares daquela que sempre te adorara
Esta que te voltou... leve... despenteada e rosada...
E escuta ... ouve o meu canto trinado... singelo e aromatizado
Que há muito te ensinara e que repetias... airoso... contente...
Correndo formoso... nos campos apapoilados...
Eu sou amor... aquela que te chamava...
Aquela que nas noites vertiginosas do contento
Te apertava... e a quem te entregavas... sem saber porquê...
Vem meu amor... neste soprinho de alma... vem... vem...
Acorre para nos fundirmos... mansos...
Escorregando por dentro da manta da alvorada
E então amor... não te mexas
Para que eu possa estremecer
E sentir no peito meu... o ardente coração teu...
E para que tu... num arrebatador alento ...
Me possas teres...

E por muitos séculos eram sempre os dois que se encontravam...
E o povo testemunhava a benção na igreja... junto a Nosso Senhor...

Sunday, July 01, 2007

Pedi em sonho que me cantassem um dia
Pedi tréguas nas lutas sem fim
Pedi...pedi...
Mas nunca se findaram as contendas
E quando acordava de manhã
Já se ouviam o gritar dos inocentes...
E o corpo doía me... e o espírito corajoso
Já sangrava e dizia... foge... foge daqui...
Não... já não desejo que um dia cantem por mim...
já não me apetece nada...
Pois que eu já sou agora o fim moroso
Da procura infrutífera do prado florido...
Que um dia me haviam prometido... sussurros gentís...
Mas que ainda dança no sonho dos justos... dos columbinos...
E todos buscam a pálida tela branca da pureza desejada...
Mas eu já estou fatigada...
E neste entorpecimento brando já nada desejo
E avisto... débil... do outro lado
Os anjos que há muito esperam...cantando por mim...
Não sou nada... só um alinhavo de gente ...
Vestidinha de branco...
Um olhar embaraçado que resvala... singeleza...
E que sobe estéril para o ar... esvaecendo se...

O mundo é plano como um lençol esticado
Mas por baixo erguem se... penosas... pernas cansadas
E aflijem se mãos fechadas... enfraquecidas do tanto pedir...
São as pedras que os homenns e as mulheres
Se entretêem a cuspirem... salivando ultrajes...
São as blasfémias que sopram sem se cansarem...
E nesse pano... já mais me posso deitar...
Que se trove um dia por mim
E eu apelarei aos de peito sensato
Aos que não se acobardam
E também aos que não se amedrontarem mais
Perante o fito danado dos encobertos... dos disfarçados...
E também áqueles sobretudo que se amam...
Porque eu levo o segredo que me foi dado lá em cima
E que não me foi permitido plantar...
Vou para as estrelas que descem de noite para o mar
E se banham nas águas mornas... moles...
E que conversam baixinho... amorosas... desabusadas...
Olho para o vazio infinito e rezo...
E peço... derramo me em demandas... por ti...
E diluiu me ... pequena... no céu... por cima de mim ....
E tudo desaparece num ponto negro... fugidio...
Como se tudo para sempre tivesse terminado...
Como se isto tudo tivesse um fim...
Eu não sei... não me importo...
Correm... saltam todos... e estafo me eu...
E o sol rebrilha sem parar
E seu fulgor é grande
E majestuoso é o seu pestenejar...
Não quero mais nada...
Só eu e o céu...
Só eu e esta brisa...
E as nuvens que passam... que passam
Sem se confiarem a ninguém...
Não tenho dono nem pátria
Tenho pai e mãe
Mas esses já me largaram...
Já os deixei...
E agora ando ... ando... sem dar contas a ninguém...
Fio me á lua branca
Que me olha em silêncio
E que prudente... não conta a ninguém...
Falo com as flores
Com as árvores gordas e vigilantes
Que não se confiam a ninguém...
Ai... só me quero deitar ... sózinha...
Desmaiar devagarinho e sonhar
Escorregar levinha e pensar
Que vou um dia partir para lá... lá... para o além...
Onde vou encontrar quem sabe...
O colinho do meu pai... e o cheirinho da minha mãe....