páginas brancas

Tuesday, October 30, 2007

Esperem lá um momento !
Quem vos disse a vós que minha vida é tormento...
Minha carne desplumada de prazer
E que os meus olhos não despiram varões?
Deslumbrem se em meus cabelos...
E no espelho dos olhos meus...
Inibriem se no aroma ternurento
Engatinhando as belezas...
E vede...nas marcas em meu colo
Quem aqui semeou as açucenas
E quem ... no colo prodigou benções
Eleitas em meu coração...

Plantou uma roseira... assentou uma videira...
E por vezes ... na hora do resguardo
Surgem... não sei de que canto do meu seio
Cheiros... almíscaras intensas que me põem a dançar
E em mim se enternece o varão por inteiro
Derretendo se nas alvoradas quentes
Por dentro das ondas do mar...

Quem vos disse a vocês ...
Que nunca ninguém se regozijou em meu peito?

Sunday, October 28, 2007

Está doente a minha menina
Caiu lhe a alegreza no chão...
É preciso guardá la bem fechadinha
Aqui... na minha mão...
Quando se restabelecer a minha querida
Ofertar lha ei... bem novinha... limpinha...
Para que os olhinhos do anjinho
Se possam de novo formosear
Da inocente exultação...
Chega me sempre do céu... o cuidado manso das minhas dores...
Na consumação da tua vista me acho contente
E as sombras que deslizam são segredos escondidos
Que nesta hora se despedem de mim... contentes...

Na agastação da espera...na vinda saudosa que tardava...
Nos silêncios escondidos... na pacatez dos dias e das noites
E nas tardes... trazia te... endeusado... pregado a mim...
Escorregavas devagarinho no cuidado que te prodigava...
Para o doce agasalho... coração meu... que por ti clamava... atarantado...
E na luz dos dias que cercavam o tesouro escondido... meu...
Ocultava te sempre o propósito... de te teres eleito por mim...
Pois que eu sabia... que por outra... teu coração era eleito...
E no aborrecimento que desgastava...
Havias te em mim...sempre... na baínha apoucada de teu jeito...
E nos esparsos sorrisos que débilmente ajustavas...
No reino de minha alma havias te por designado...
Mas um dia... na represália insensata de um termo teu
Me tive alongada em ajuízada consciência ...
E te observei... na permanência insensata... pena aloucada...
Que á outra infligias... coitada... enleada na tua precária conveniência...

Chegou me então... a vela cuidada de uma sábia sentença...

Nunca ... jamais em ti... reposaria a minha nobre e doce ciência...

E assim se viu livre a donzela... de um cobarde...de um vilão insensato...
Que... há muito... prejudicava no íntimo... a inocente...

Friday, October 26, 2007

Não sei se sou... se fui... se já parti...
Tudo é uma sucessão de momentos... pernoito em
Átomos... neutrões...protões...
Disperso me incenssantemente em minúsculos espaços
Em espaços... vácuos... e a mente abarca numa viagem perpétua
Vou e venho... nunca me acho...
Atropelo me nos cantos... descanso nos meios
E tudo roda numa parcimónia que alonga o tempo
E tudo caminha na direcção certa... e nem sei porque a razão...
É como ser se cega de nascença e demorar se na proeza
E no tudo ser se certo... na irrefleção da luz que filtra a mente...
Tudo se quebra... quando se abeira de mim...
Não repudiei nada... nem sei se alguma vez me apercebi bem
Do que por mim passou... daquilo que já vi... do que me atentou...
Do que sentenciei... de quem me condenou...
Confundem se os desejos numa amálgama consistente
Que se amassa e se dobra por dentro...
E no monte surge a confusão...aboleimam se zangas
Tecem se intrigas... procissões...
Ser se ... é nada querer...
Ter se puro na pretensão que amarra
E destrói o selo da virgindade celeste
De quem nos elegeu... neste pedaço de água e pedra...
Tudo chega para de seguida se diluir
Numa papa confusa que perturba e cansa...
A virtude é mesmo esta...
Caminhar sempre indissolúvel
Intangível nos propósitos proscritos
Não dar a voz a ouvir...
Fazer o que em nós...de benigno teima...
Falar sempre com os olhos mansos e alegres
E pôr em nossos ouvidos... tampas...
Resguardar em nós... o silêncio que preenche e amansa...
E... deixar se escorregar... fluindo...
Carregando no peito a obra divina...
Que deslumbra e encanta...
E na dualidade encontrar a razão...
Colar o olho no céu e ter saudade de partir...
Achar se confuso perante o santo...
Engalanar o ladrão...
E no travesseiro do astro nocturno
Confidenciar o desejo de não sair por aí...
Ser se... é não se achar confuso na decisão...
Saber dizer sim... ou não...
Oh! horrível tragédia esta ...
Ser se prisioneiro da tentação...

O melhor é nada querer mesmo...
E viver na paz da inressuscitação...
Se me tocásseis agora...
Em galho frágil do meu corpo
Ouviríeis lamentar se o ser trôpego
Que se esconde em mim...
Veio alojar se um dia... sem pedir licença... assim...
E não estabeleceu cláusula finda
Para se despegar e partir...
E é nestes dias assim
Que o oiço roncar ... blasfemar...
Vociferando alto... ensurdecendo os meus sentidos
Que chegou para ficar... e não quer abalar daqui...
Sim... sim... eu vou resolver esta contenda...
Vai ser preciso talhar... fender o meu corpo
Com uma conspurcação qualquer
E...pegando se a ela... enlear se...e quebrar se por aí...
E quanto a mim...
Que se apresse esse ditoso e desdenhoso sonho...
Que me retém a alma... e me confunde o sossego...

E é nestes momentes
Que me vislumbro...
Manchada na minha pureza...

Wednesday, October 24, 2007

Se me pedisses para ser ridícula
Se me ostentasses mil notas de mil
Se me oferecesses castelos
Para te ajudar na traição...
Se me falasses em desatinos
Sem nunca pedires perdão...
Se me tivesses por surda...
Se te ouvisse clamar desonrosas pretenções
E se isto tudo virasse consumação...
Enfrequecerias na certa a minha alma abonançada
Que repousa sossegada... planando no silêncio
E que se balança virtuosa
Nos ramos das tamaras sumarentas...
E envergonhar se ia a eleita...
Em te carregar... pesado...
Em seus braços gelatinosos e frescos
Para fora dos campos meus...
Vinde... suave presságio...
Aliviar os meus dias quentes
Pelos lados de um doce ermo...
Areias solarentas... estivais desertos...
Doce aconchego...

E na visita de tua pessoa...
Ter me ias cansada e doente...
Porque não te sabes resguardar
Em minha recatada comparência...
E ... no semblante teu.. talhado pelo augúrio negro
Sintir me ia frágil... débil e magoada
Em tua presença...

Nunca me terias cheirosa...
Banhada nos aromas meus...
Cheiro a cravo... á canela e ao jasmim...
Eu... que sou ...

Tuesday, October 23, 2007

Atentem me... atentem me...
Que da cólune difamação
Sairéis debilitado e temente...
Porque em mim...
Não se desdobram difamação... ruíns intentos...
Mas antes... vislumbro neste momento
Num alvéolo transparente
Bocados danosos de tua intenção...
Toma cautela! oh... intruso demente...
Que a minha terra é amparo...
Que os meus céus são orações
Que o meu jardim tem cajado...
Que o meu corpo... meu coração...
São repasto dos pobres... das crianças pequeninas
Que fogem das garras dos leões...
Atentem em meu peito bravo!
E dar me eis razões...
Para que de noite convoque Deus e os Anjos
E todas as celestes legiões
Tende me por segura no pertinente vinco
Que em meu jardim... não entram trovões!!!
Sopro forte nos desejos
E dimanam de minha alma sedenta
O tilintar das notas... que se elevam...
E na doce conduta que a si se atribuem
E na revisão airosa do leque de teus sorrisos
No extâse contido que me submerge...
Vejo te... fonte bendita... nobre aspiração...
E na linhagem pura de minha intenção
Sorvo te em momentos esquivos
No auge de meu tormento
Nos buracos do teu tempo...

Sunday, October 21, 2007

Os olhos da menina que me vê e sorri...
São dois balões pequeninos
Que brincam e se agitam
Radiosos... agarrando se a mim...
E no estalo ruidoso de sua alegria
Rebentam felizes...

É aí que se dá o milagre...

Friday, October 19, 2007

Os teus olhos não me viram... amor ...
No passeio indolente da tua alma
E na abundância celeste que me rodeou
Não se acomodou em mim... em adorno presenteiro
Um cheirinho... um sorriso fatiado... adivinhando o alecrim...
Vinhas dos campos apapoilados e carmesins
Trajadando acerejado... no ministério são de teu ofício...
Vi te... numa curvinha do paraíso...
Mas tu... nem reparastes em mim
E desfiei te... em luzido olhar... um naco de saudade
Que por outra trazias ...há muito temperado em ti...
Castigo esse ...de não te teres em ela por eleito e amado
E em mim... cego... na doce intuição que me despertastéis
E no verbo atencioso ... te soltei palavra...
Comovida... me vendo por ti saudada
Tremeu se me o coração enjaulado...

Passas sempre por mim... naquela hora da tarde...
E eu... na divulgação de tua pernada
Achego me sempre derreada ao terreiro teu...
Só para te ter nas vindas... no cursar do passo teu...
E o sol dardeja sobre a cabeça tua... uma benção doirada
Que desmaia levinho... na carícia do meu olhar...
E no amparo da minha ilusão... me fico quieta e estendidinha...
No chão empedrado e frio...
Para te ter um pouco... quentinho... em meu coração...

Thursday, October 18, 2007

Pois... é natural que não me vejas
Tu... que te espandes por aí...
Sou serena e dócil no descanso
E não tens permissão de entrar aqui...
Passas os olhos por mim
Tendo me empedrada... fria...
E o que desliza em ti... no olhar trancado que me afirmas
É o sinal sentencioso da aflição que seria
De eu... em ti me deleitar... um dia...
Foge... foge... da brandura do meu fogo que cativa
E do prejuízo que eu possa firmar em ti...
Pois que eu sei... que nos teus espaços... nas tuas frestas...
Não há lugar para mim...

Wednesday, October 17, 2007

Veem me serena e pura
Nos jeitos e modos gentís...
Mas... se por um acaso fortúito
Me tocarem na ferida púrpura
Que brota... e escoa em mim
Teríeis que ver o verme escabroso e dormente
Que se alojou um dia em mim...
Oh! dolorosa lembrança esta
Que rescalda e queima... aqui...

Sunday, October 14, 2007

Deram nos tudo...
Os homens e as mulheres...
As árvores...as rochas e as montanhas...
Flores... pássaros ...
Luz e trevas...
Dias longos... amores libidinosos...
De tudo para sermos felizes...
E mesmo assim... achais pouco...ingratos!
E que nesta vida... não deveria ser assim...
Calem se as bocas dos tontos
Que andam a pregar por aí...
Abotoam bem os olhos e vejam
Se não basta... a vossa boca e nariz
O tanto que tendes semeado em obras calamitosas
Na ultimação de vossos recados... de vossas intrigas afins...
Passeando vos engalanados... gentís...
Dependurados em enleios e enredos sem fim...
Embustes... disfarces... e a história não acaba aqui...
Sois decadência e indecência ...na bela terra prometida
Que vindes reclamar a mais... do que já usufruístes ?
Brindaram vos de tudo...
Mas ainda não descobristes ... oh! gente instruída!
Que a paz reside no céu e não aqui...
Na efémere imobilidade das estrelas
Que se cansaram de andar... e se albergaram ali ...
Vede... a colina nua... que despe a sua pele verdejante
E anima a tua comtemplação... num riso ondeante...
E se oferece pura... a ti...
Vinde pois alimpar vos nos rios... nas frescas águas chuvosas
Que debandaram ... dos lados do paraíso...
E não atestem mais a vossa vontade em gestos de compromisso...
Sejais antes como os pássaros que cantam
E que não se importam de partir...
Calem os vossos olhos num gesto benigno... e adivinhem se todos
Reclusos... virgens... na espera da lavra renovada...
Nos ramos das florestas secretas... lá...
No longínquo empíreo...
Debiquei um pouco do teu mel
Inibriei me... súbito... de ti...
E nas nuvens altas que traguei
Adivinhei te ... decalcado em mim...

Nas sombras proeminentes
Que em meu âmago desprendi...
Acorrias feliz... sorrindo... pairando
Leste... para junto de mim...

Foi na condescendência do meu mistério
E na vontade adquirida em ti ...
Que te enterraste na vontade célere
De me guardares sempre... perto de ti...

E no resguardo de minha alma pura
Amanso me em suspiros e ânsias...
Por ti amor... que me deste as tuas luas...
E eu... que nelas... me resurgi...

Saturday, October 13, 2007

Só me posso dar a quem meu coração pedir...
Só me posso entregar a quem meu corpo sorrir...
E na prestigiosa afeição... logo me terei de tingir...
Porque nas áureas do amor ...
Tenho de me enrobar assim...
Fica me bem o negro ... o rosa...e o alecrim
Até porque na conjugação da noite ... há que trajar assim...
O branco... celeste e marfim
Calham bem... nos dias afins...
Mas o que veste bem e melhor...
É o meu corpo amor... na cor branca e cheirosa
Que arremesso agora... na hora... por cima de ti...
Não há futuro...
Tudo são somas consequentes do presente
Que se afundam e passam por mim...
Vejo me dilatada na passagem percorrida
E na carência de ideias... dou me castrada... finda...
O que há de vir... afunila se no momento... que se dilui em mim
E na soma adequada... sou a pitonisa atordoada
A mestra licenciosa que vela por mim...
No passado... estendo me lisinha
E até se pode passar sobre mim...
As ideias e os trajectos avançam devagarinho
Estantelando se na aparência... na altura adequada... vida...
Só sou dona do presente que me chega na forma do declarado
Que se enreda logo em mim...
E tudo foge para o outro lado...
Esse... que se criou em mim...
No jardim do meu peito
Semeei auroras azuis...
Porque nesse modo se traja o céu... e o mar abastado...
E eu... sonhei me assim...
Embevecida e deslumbrada
Embrulhada quentinha... em fralda matiz...
E no espaço aberto ... na intercepção demorada
Fiz me fina... delgada... para passar para ali...
Nas auroras demoradas
Adio me me no meu jardim...
E no peito soam cantares
Dos Anjos que andam por aqui...

Na alcance da minha consciência
Vejo me vestida... calçada... assim...

Fecho os olhos e viando para longe
Na aprovação que assenta em mim...
São azuis os... verdes campos... que um dia... vi por aqui...

Friday, October 12, 2007

Olha me de frente amor...
Para eu ver nos teus olhos o rufar ensurdecedor...
Os ventos e folhagens de teu corpo
Baloiçando por cima do meu argenteo fulgor...
Mira lá devagarinho este meu carinho...
Este pulsar levinho... que estala mansinho
Por de cima da tua boca...
E no restulhar de teu ardor... abraça me... meiguinho
E agarra bem este teu solinho... esta alma pequenina
Que te chega boa... logo pela manhã...

Mas ele não queria as águas mansas
Não queria apertar com força
A menina nobre que a ele se entregou...
Foi se estoirar numa boda
Com dama estouvada e louca...
E tivera o que merecera...
Águas agitadas e aflitas...
Afundaram se as naves e os tesouros...
E um dia... numa tempestade frugal se matou...
Pestanejaram os olhos de quem me leu...
E na sombra resguardada da palavra oculta
Não houve quem a mim se entregasse...
Sereno e corpulento... nas missivas entalhadas
No altar do peito meu...
E quando se lhe abriu a vista nas palavras escritas
Ficou lhe a respiração suspensa... aflita...
Porque ali estavam desenhadas as figuras malditas
De quem um dia grasnou... de quem se descuidou
Grosseiro e impertinente... por cima de mim...
Que me leiam com cuidado... sim...
E esbugalhem esses olhos dormentes
Nas espigas suculentas que racham devagarinho... em mim...
E se não me quiserem beber... afastem se pois daqui...
Pois que a mim se acheguem só... os que precisam de mim...

Tuesday, October 09, 2007

No adulo do meu amor
Me sinto confiante...
Há uma cama vazia... numa casa humilde ...
Não se pode mexer nos lençolinhos
Porque estão cheios dos beijinhos
De quem se deu... e nela amplamente se abasteceu...
Feliz... numa vida pequenina...
A lua nasceu... virtuosa e pura...
E no despertar... conciliei me com ela...
Estonteada... versando uma redondilha ...
E no alto da sua cabeça ...
Esgueirei me ... de súbito... ferida...
Tropeçando... adormentada... numa sílaba...
Ai... isto não pode ser... que coisa tão esquesita...
De me querer mostrar a ti tão bela
E cambalear... logo assim... de seguida...
Porque... a trova que alto ditei
Foi para ti... meu menino...
Designando te em meu coração
Logo cedo pela manhãnzinha...
Há muito... já definido...

E assim me tendes então... amor
Logo pelo começo... embevecida...

Mas... que isto não te tolde a razão
E vede meus olhos... que em ti brilham...
São estrelinhas mornas... de uma noite graciosa
Que em mim ficaram sonolentas... esquecidas...

Tuesday, October 02, 2007

Ai...se o luar chamasse por mim
Para que eu pudesse repousar...
Suplicar lhe ia em minha demanda...algum descanso...
E por lá... assentando me em farta nuvem...
Achegar me ia para o alto... sempre mansa...

E nesse repasto... se esvaneceriam todos na terra ...
Porque... por cima da saia acetinada e branca...
Dançaria por toda a noite adentro num folguedo assombroso... deslumbrante...
E perfilando me nas paredes das casas
Onde repousam as minhas crianças
Seria tudo... fantoches...sombras... das teatrosas brincadeiras...
E lá no céu... encetaria conversa... com as estrelas ...e com os Anjos...
E com as cordas da lira de minha arganta... afinaríamos canções...
Sons genuínos... nunca ouvidos antes...

Mas também me encostaria á minha amiga gorda e fascinante...
E em jeito de amante... lhe passaria a mão pelo ventre redondo e cheio
Me afeiçoando na demora... e com os seus filhinhos conversando...
E abastecer me ia neles... em conselhos puros...
E que se amassem todos cá por baixo... pela vida adiante...
Todos juntinhos... apertadinhos ...numa mão avultada e cheia...
E que o seu amor fosse tão grande... como á luz destes astros...
Que vivem por aqui... e que vedes... ali... nestes céus tão distantes...

Monday, October 01, 2007

Amo... no calor do afago...
Na ternura de um abraço...
No deslizo de um beijo...
Amo sempre... sempre mais...
Até me ter esgotada ...por inteira...
Este mundo é muito engraçado...
Só se fazem contas ao dinheiro...
Mas esquecem se os pecados...
Só se somam cifrões... e pronto... está a vida arrumada...
Esbogalham se os olhos nas contas bancárias
Mas passa se indiferente... perante a desgraça alheia...
Na rua... lá fora... amontoam se os pobres... aflitos...
Os glotões... dizem eles... receosos que lhes roubem um pedaço...
E se por um acaso lhes derem côdea em vez de pão
Acenam logo com a cabeça... num gesto de boa vontade...
Mas o requinte fresco e estaladiço fica lhes lá... para suas casas
Pois... supõem logo... que nas bocas apertadas e desdentadas...
A fina e melhor parte do manjar não passa...
Ficam pois os aguerridos endireilhados... com a melho parte...
Oh! vergonhosa raça...
Tendes o livro da Lei á cabeceira
Mas não entendeis nada do que se lá relata
E no descanso dos olhos escorregando no Livro Santo
Alivia se lhes a magra consciência... e quando se deitam...
Deslumbram se em sonhos na contagem crescente de seu Amo...
Fazem se muitas contas... nesta terra desgraçada...
Mas isso... está se mesmo a ver... não serve para nada...
Abri bem os olhos e esgueirem se para o outro lado...
Abarcai em vós... num manto espesso
Um pouco da dor que se estende por todo a parte
E num relampejo fulminante...
Repartam o tanto... que tendes em vós... embaraçando...

Só se fala em dinheiro... dinheiro para aqui... dinheiro para lá...
E a boca entope se... e os sapos dançam... mafiosos... delirantes...

Eu cá prefiro as águas mansas que não me custam nada...
O caudal revoltoso do rio que baila nas minhas tranças...
E este céu esplendido que não me pede nada...
E sobretudo... o rosto aflito... esperançoso... de uma criança...
E que... na aflição de não se ver achada... na dor do seu silêncio...
Pede colo... abraço e confiança...

Verdade... verdadinha... o que eu gosto mesmo...
É de me ver cativa... no rosto de quem... por mim clama...

Que manual será preciso ... oh! homens ... ditos de confiança...
Para entenderdes isto... de corpo e alma inteira?

Já me foi sussurrado um dia... que... nunca...
Mas eu... como sou teimosa... espero... espero sempre...
A saudade é um lençol por pintar... branco...
Poque é na virgindade de tal cor
Que tudo se revela de relanço...
Pega se em meia duzia de tintos
Atiram se num folguedo... pinceladas deslumbrantes...
E no todo se vai agasalhar o menino amante
Para sua cama... se embranhando na vontade de seu jeito...
Ouvem se silvos... rumorejos cantantes...
O tingido... são as saudades que da menina tem...
O arremesso ... o desejo suspenso na espera difícil
De a ela se confundir... em evidentes e tilintosos beijos...
E é um jogo de sedução atrevida...
De que só ele é mestre... em que na noite escura...
Se estreia primeiro...

Mas o pior... é que nem sempre as coisas são como se pensa...
E lá vem a tonteira de confundir a quem se ama
Por não lhe querer conhecer o jeito...