páginas brancas

Friday, May 26, 2006

Foi se a minha amiga...galharda...
De colo cheio e generoso
Pernoitar por outros lugares
Deambulando por prados e campos
Dando a outros o seu cheirar...
Foi se um dia embora
A menina preferida
De minhas canções...
Gorda...tão gorda essa donzela
Derramando ardores...
Foi bom... vê la...
Estendida...despudada
Lavando se garbosa
Numa florescência
Frutífera de aromas...
E nos cantos do seu corpo
Acoitou amantes e vontades
Testemunhos e segredos
Arremessos ... confidências...
Canto brioso
Atiçando vontades...
Apareceu leve... graciosa
Lavadinha e rosada
Na elevação prenunciada
Do ermo de uma colina
Deu se pela sua visita
Curta e apressada
E foi se então dançando
Açodadinha...
Em pulos leves e roliços
Pintando em seu rasto
Um arco íris de cores
Desconhecidas...inimagináveis
São histórias de amor
Que ela vai tecendo pelo caminho...
Foi se num vôo leve e repicado
Passear se por outros lados...
Levava em avental farto
Flores colhidas no paraíso ...
E foi num súbito acordar
Que a vi... fugidia...
Galgar montes e vales
Coradinha da pressa que tinha...

E o menino espera cada ano pela sua amiguinha...

Wednesday, May 24, 2006


Agarrou se a min o meu amor
Para me sussurrar ao ouvido
A estima...o ardor que me tinha
E na desaustinação dos sentidos
Por entre o sopro da terra
Por dentro das nuvens
Virgens de meu ardor
Fechei os olhos
Deixei cair a cabeça
Num colo quente e sereno
E...rompendo a luminosidade
A que me acostara
Alcancei lhe a cor certa
Com que há dias
O pintara...
E na vontade desmedida
Que em min se alojara
Deitei lhe ao pescoço
As mãos quentes
Atirei lhe aos lábios
Beijos meus...
E no chamego tumultuoso
De nossos corpos
Na venustidade
De nossas poses
Caiu me na alma
Uma frescura serena
Uma manta quente
Semeada de açucenas...

Vem...vem meu amor...

Monday, May 22, 2006

Ela era menina...
Olhava o pausadamente
E todos os dias passeava por cima
De seu corpo de sua face
E todos os dias
Pisava com seu olhar
Aquele peito aberto
Aqueles braços finos
E por vezes confundiam se
No entrelaçar de seus beijos
Com as raízes fortes e largas
De um sobreiro...
E passaram se anos e séculos
Sem se cansarem...
E de noite e de dia
Se amavam numa dança graciosa
Onde seus dedos e faces se alumiavam
Na quentura do amor que lhes assistia...
Veio um dia a tristeza
De um deles que por tempos partira
E a menina continuava a olhar
Mas ele já não a via...
E então caladinha
Erguia para ele seus olhinhos
E em silêncio lhe pedia
Um beijo...como naqueles dias...
E ele olhava a
Seguro de seus pecados
A que não punha fim...
E a menina...
Na candura de um seu abraço
Comia lhe os olhos de mansinho
Que aquele amor
Náo tinha princípio
Não tinha fim...
E ele continuava a agarrá la
Nos seus braços longos e finos
E a menina trepava por ele
Come se caminhasse
Para o paraíso...
Mas chegou um dia
Em que o menino
Não conseguiu
Engolir aqueles olhos doces
Para ele voltados
Sobreerguendo se por cima de si
A mansidão da tempestade
Que por ali fluía
Deixou o preso á rocha fria
Não conseguia mais
Alcançar lhe as margens arenosas
Começou a sentir no peito
Algas a prenderem lhe os sentidos
Escondeu o rosto doce
Na covinha do queixo da menina
Sussurraram palavras
Sózinhos...
Apartaram se devagar
Em jeito de despedida
Mas ele hesitou
Porque aquele amor
Não tinha principio
Não tinha fim...
Olharam se
Numa oração reluzenta
Que lhes punha nos olhos
O vento das ondas
Drapejando de azul
A sombra de seus corpos nus...
Procuraram de roda
Despojos de tesouros...
Nada encontraram
Nada viram
Pois que tudo tinham engolido...
Dos beijos aos abraços
Das crianças que tiveram
Nada restava ali...
Miraram se de novo
E no desassossego de suas almas
Descansaram vozes gentís
E no encosto de suas almas
Almejaram a verdade esquecida
Na frescura
De seus corpos serenos
Estenderam se lada a lado
De mãos dadas
Amando se no silêncio

Alguém dançou para eles...lá no paraíso...

Sunday, May 21, 2006

E o corpo descansou
Por entre hinos e canções
Daquele que sempre fora
O orgulho da nação...
Mas o que ele não sabia
Era que...
Por corredores e sacristias
Em berços e cueiros de menino
Lhe haveria sempre de cantar
Benções logo de matina...
O corpo já lhe sossegava
Nas tábuas negras e finas
Mas a alma lhe dançava
Por cima de vitrais floridos
E num todo de liberdade
Ajeitou se a coisa fina
Num peito rendilhado
De donzela distraída...
Onde ides senhor voraz
Que isso é pátria minha
Afastai vos pois então
De minha linda menina...
Voltou então a coisinha leve
Para dentro do imenso vazio
E sem pedir licença se demorou
Por entre a turba aflita
Que vinha ao clamor da voz
Rezar lhe vésperas e matinas
E num sopro demorado
Aconteceu naquele dia
Que a todos aquecera
Como de uma benção divina...
Quedou se a gente pra fora
Chorando alegria
Que seu amo e senhor
Tinha voltado á vida...
Foi a gente para suas casas
Acender lareiras
Aquecer comida...
Puseram prata e janta
Para o senhor
Que haveria de vir...

Até hoje permanece a faiança na mesa...

Monday, May 15, 2006

Sinto o vento roncar nas minhas costas...
É a má vontade dos homems
Dando me palmadas
Desafiando me os propósitos
Sinto queimar ma minha boca
A palavra proíbida do desencanto...
Foram traidores que me afastaram
Teceu se a intriga farta
Lançaram se as redes
Vieram rastejantes...
Para que da cilada
Eu não sentisse a passada
Não gritasse com a pancada
Foram espertos esses senhores
Que me açoitaram o espírito erante
A alma amante...
Que de mim não havia queixa
Nem culpa...nem suspeita...
Que a todos queria por bem...
Ai...esses traidores que se acautelaram
E comigo pegaram jogada
Acabrunharam me...esses malvados...
Que se acautelem...
Que o cutelo está afiado
Que em mim...só a dor permanece
Numa litargia glaciante
A quem feriu de verdade...está no alto
Pingando já indignações
E num dia virá então
Aquilo a que todos temos direito
Num julgamento frio ou honroso
Justiça sacramental
Juízo final esvoaçando palavras
Em qualquer parte do céu
Arrotando verdades
De nossoa actos e vontades...
Que se cubram bem de vergonhas
Essa gente que me atormentou...
Que em mim resta apenas
A dor de tamanha desilusão
De tão grandes fraquezas e cobardias
De tão grande astúcia
Da louca vertigem
Cobrindo margems
De desenganos e dissabores
Da má fé á calúnia
A quem meu coração desaprovou...
E que fique para sempre
A vontade de fugir dessa gente
Que queima, arrasta, delicera...
Desses desenvergonhados
Que clamam razão
Aos ouvidos serenos de seus irmãos...
Acautele se a boa gente
Coberta de glória e sabedoria
Que se afastem deles
A gente armada de luz
Que em suas almas traçam estradas
Que em seus corpos desenham árvores
Que se lhes pode acabar o tino
Num todo de traição consumada...
Fora os danados...os bárbaros...

Saturday, May 13, 2006

Ser poeta é ser se mais louco...
É voar por entre os ramos das árvores
Desassossegando...
É no desatino das palavras dizer verdade
É no vazio das coisas achar sentido.
E no tudo achar o nada.
E no espaço intemporal...
Ver adiante...olhos encobertos
O nevoeiro cerrado traçando verdades...
É galgar no espaço a constância certa
Respirando ânsias de parto...
É na verdade encontrar solidão
E por entre as coisas...abrir espaços...
E nas coisas mutiladas achar o jeito ...
E na dor... a cegueira abstracta
Do pleno sentindo a nada...
É no tudo arranjar jeito...
Mondar nos céus azuis campos
Ter na terra verdes anjos...
Ser se poeta é moldar espaços e vazios...
E por dentro da desaustinação do verbo
Sentir lhes a picada...
É no descomprazer encontrar sossego
Da coisa bela...desconcertada...
É no desmentir achar acordo
A coisa certa... demorada...
É voar...na imensidão do nada
Espantar o sossego esparso
Içar bandeiras gritando alto
A força da vida...no sangue derramado...
É no brilhar da coisa fulgurante...
No desmedido achar alcance
No longínquo abrir caminho
Na razão... espiar a palavra
E no absoluto render a alma...
Ah!Ser poeta é morrer...
E no deambular da vida
Sentir saudade...
É renascer se ébrio de palavras...
Toldar se a razão ao ser...
E no desmedido do propósito
Alcançar longe a verdade...
Ah!Ser poeta é amar...
Amar até morrer...
Na abstração do nada...

Thursday, May 11, 2006

Toma as rosas amor...
Despi me delas
Para te as ofertar...
Vede...
A ti me venho entregar...

Toma as rendas amor...
Toma me o traje
Venho a ti formosa...
Depressa...
Vinde me tomar...

Toma me os cabelos...
Para te enfeitares
Chega te amor...
Cheira...
Vem me tragar...

Toma me os olhos...
Para neles navegares
Abraça me amor...
Acorre...
Para me enlaçares...

Toma me a passada
Que por ti tropeça...
E o desatinado alento
Por que por ti carrego...
Toma me o peito
Afinado te tenções...
Toma me os braços
Cheias de aurora...
Toma me a boca
Toma me os lábios
Toma me o queixo
Toma me a bochecha
Rubra de emoção...
Toma me amor...
De minhas mõas
O madrigal carinhoso
Terno e amoroso...

Assim falou a pastorinha de seu amo...guardando as ovelhinhas...

Wednesday, May 10, 2006

Vivo na vibração de uma corda...
Soa o violino e o violoncelo...
E fala me Bach...dos nossos amores...
Que eu um dia...fui dele...
E nos amámos...
Vivo na sua voz...
Desejos estonteantes...arrepiantes...
Espasmos atormentosos...desordenados
Espantos desnorteados...eternidades...
Foge me o meu amor ...
Por entre fluxos e refluxos...
Pelo meio de sombras...de arvoredos...
Tela...esses nossos encontros e desencontros...
A minha alma etéria para ti voa...
Não me deixes fugir...
Agarra lhe a ponta...
Que um dia...
Te pertenceu a minha alma
Que um dia te hei de tornar...
Oh! Deus...a ti entrego o meu pesar...

E assim viveu a menina por muitos séculos até lhe voltar...

Monday, May 08, 2006

Se eu chorar no teu ombro...amor...
Não me tornes lastimosa...
São as lágrimas do tanto querer
Que te tenho dentro de mim...
Água benta...santificando nossa união...
Que... quem tem lágrimas para verter
Fará acrescentar ao seu coração
Tantas as flores que nascerem
Por debaixo da ostentação
Da chuva...caindo em cachão...
Pois...que estas lágrimas
Que por dentro de ti derramo
É o mar sereno por onde te encontrei...
Pelo raiar da tua sombra entrei...
E num desejo ímpetuoso de te ter
Por ti velejei...
E em águas bondosas e mansas
Me adeitei...vendo te ...
Os mastros...tecidos de beijos meus...
Tomaste me por ninfa...sereia...
Mas eu sou Rhéa...Cybele...
A amofinada mulher de Cronos...
Quem sabe... mãe de Zeus...
Mas que importa...
Se eu por cá pairei tantas vezes...
Sempre apoiada em teu ombro
Amor meu...
Vede...Ouvi te certo dia um chamado...
Logo de seguida acorri
Á melodia doce...vaidosa...
Vivo desde então ...
Esperando por um teu sinal
Agarradinha...
Tu... que eu beijo
Com mil cuidados...
Que esse teu cansaço amor...
Sou eu...pendurada em teu regaço
E esse torpor na mão...
É do peso da minha na tua...
Vede bem amor...
Se um dia...
Me apartar de ti o coração
Serão vestes...que trareis
Agarradas ao teu...
E por décadas... o tempo
Olhará para mim...
Que me fui...de velhinha...

Vede então amor...estou aqui...pertinho...

Thursday, May 04, 2006

vede...as cores que carrego...
Tão avessas á minha feição...
São rugas que eu trago...
Penduradas em meu coração...

Vede... o andar que levo...
Pesado e desastroso...
A alma se me atormenta
Num grito tempestuoso...

Vede amor...
A palavra é ditosa
Junta se lhe o tom...o sabor...
Falta me fez...amor...
Teu excelso e requintado sabor...

Disseram me...
Que haverias de vir...
Por vós esperei...
Cinco séculos corri
Nunca te avistei!

Vede agora..
Menina cansada...sou...
Abri teus braços a mim...
Desbravai o mato que
Pelo meu corpo trepou...

Quando descobrires a roseira...
Vede em que se tornou...
São tuas...essas rosas que cuidei...
Enxutas ao sol do dia
E que o luar amançou...

Pega me brava e macia
Nesse meu suave despertar...
E de beijos...
Enche meu corpo vazio
Cansado de tão longe...
De ti estar...

A menina amou dia e noite o seu menino...durante cinco séculos se encontraram...

Wednesday, May 03, 2006

Juntei me ás palavras sábias...
Catei as de uma só braçada
A pedir socorro!

Venham a mim...
As palavras pequeninas
De trato manso
De cheiro gustoso
Recanto airoso!

Ai... essas palavras
Que se alevantam...
Cochichando entre si
Caminhos e encontros...
Dizei me...
Onde pára o meu amante?

Vede...
As minhas forças esvaeceram se
Da partida...num entardecer....

Dizei me... pequeninas...
Onde pára o meu querer?

Sois prendadas e bondosas
Vós... as pequeninas...
Andeis por todo o lado
Desempatando caminho...
Onde as grandes não cabem...
Voçês caminham a valer
Pois que assim seja
Prendadas bolinhas...
Onde pára o meu saber?

Quero o meu amor...
Que desposada já estou!
Vá...depressa...
Tornem me o meu homem
Que a vida me resvalou!

Do teu homem o que sabemos...
Para outra vida se trespassou
Chora menina...
Que o teu tempo acabou...

E a menina caminhou cinco séculos
Por vales e penedos
Sem encontrar ninguém de seu merecimento...
Nas ondas da minha imaginação...
Corda de um violino
Sublime momento...
Eu sou a nota...
O sorriso contente
Na saia do tempo!

No barco do desejo...
Eu fui cantata
Serenata...
Eu fui a fada feiticeira
Cativeira...
Cantei a força da paixão
No leito desfeito...
No embrulho da solidão!

Vede...
Numa rocha há um pássara...
Está parado...esfomeado...
Tem asas abertas
Corpo esbelto...
É um bicho cinzento
Nem pedra gelada...
Eu... sou a varinha de condão...

Caía a chuva...
Foi então que se deu o estrondo...
O pássaro grandão...
Esbranquiçado de luz...
Bateu asas e voou!
É hoje ainda...o único habitante
Da estrela mais próxima do meu jardim...

Monday, May 01, 2006

Amor...
Dá me as tuas costas
Para eu poder descansar...
Os teus braços
Par neles me estender...
Tua cabeça
Para nela me encostar...
Teus lábios
Para me aquecer!

Amor...
Não escondas o desejo
Que te vai
Na alma adiante...
Que eu sou...
Aquela por quem esperas
Desfiando...
As baínhas do tempo!

Porquê amor...
Fechares em teu peito
Esse atito intenso
Se eu venho...vagarosa...
Me dar a ti...contente!

E se na negrura
De meus olhos entrares...
Poderás descobrir então
As léguas que caminhei
Para me pendurar
Em teu colo...serena...

Vede amor...
O tanto que te aceno...
Viajei...recostada ao tempo...
Pelos meandros espessos de um som...
Alojei me no seu ventre bamboleante...
Fui a colcha bem fofinha e espessa
Aquecendo te a pele fina...

Viajei de bruços numa linha
Que me levou para a imensidão
De um espaço repleto de sons
Almas gentis que cantaram para mim...

Viajei sem parar dia e noite
A ti pendurada...
E nos estreitos ombros
Em que me ergui
Vi...nas bocas de anjos
Relâmpagos...imagens de ti...

E no sossegado... aconchegada a ti
Findou se num sotto vocce
A viagem querida...tecida...
Adormecida...junto a ti!
Queriam me mansa...
Tiveram me tempestuosa!
Quiseram me indiferente...
Tiveram me curiosa!
Queriam me temerosa...
Tiveram me corajosa!
Quiseram me sossegada...
Tiveram me aventurosa!
Queriam me medrosa...
Tiveram me impetuosa!
Quiseram me despida
Tiveram me andrajosa!
Quiseram me calada...
Tiveram me faladora!
Quiseram me quieta...
Tiveram me arrojada!
Quiseram me rastejante...
Tiveram me alada!
Quiseram me feia...
Tiveram me airosa!
Quiseram me casta...
Tiveram me desenvergonhada!
Quiseram me desatinada...
Tiveram me atenta!
Quiseram...queriam...
Essa gente que por aí passa!
Quiseram...queriam...
Aqueles que não viam!
Quiseram...queriam...
Aqueles que não ouviam!
Quiseram...queriam...
Aqueles que não sentiam...

Ai de mim...
Sofrida neste mundo pardo...
Ai de mim...
Resgatada nas mãos dos iníquos!
Ai de mim...
Largada no vazio...
Ai de mim...
Estalando de sede...
Ai de mim...
Curvada...baixinha...
Ai de mim...
Procurando um lugar pequenino!
Queriam...
Queriam me assim...
Mas eu alcancei lhes as sombras,
Enxotei lhes as jogadas...
Pus me de lado calada,
Vendo os matarem se...
Fiz me surda,
Pontapeando palavras...
Fiz me cega,
Presenciando mutilações...
Fiz me parva,
Acenando de lado...

E foi assim que um dia parti...
Dizem que me viram o perfil!
Dizem por aí... que por aqui...
Procuram me o rasto...
Mas eu parti mesmo
Para lá das estrelas,
Para Andrómeda!
E na circunvalação do colorido
Na exasperação da coisa achada...
Sou Febo...
Estrondeando emoção!