páginas brancas

Wednesday, January 30, 2008

Quero desenhar te nos contornos nítidos de meu fitar
Na circonferência de meus olhos a reinventarem te...
E na instância marcada de uma aprimorada intenção
Me surpreender na coerência súbita de minha vontade...
Assim... na ligeireza dos astros rodando
Na permanência das estrelas piscando
No abraçamento determinado... caminhando
Na vontade nobre e leve cativando... e se achegando...
Só...só...sempre e sempre assim... no céu azul... flutuando...

Saturday, January 26, 2008

Se me achasséis pequenina
Carregar me ias nos teus braços
Radiante e bonita... no teu abarcar...
Mas encontraste me mulherzinha
Robusta e trigueirinha
Trilando nas noites de luar...
Se fosse novinha
Estaria a brincar...
Mas como sou crescida
Bradaste me... feiticeira... aloucada...
E me fiquei assim paradinha
Vendo te por mim passar...

Se não entendes de luas
E as não sabes olhar...
Que te mandes então logo
Para eu... não mais te desejar...
É bom ter se feliz no ociosidade...
Só... na intensa vontade de não se querer nada...
Porque no desejo se espelha a minha falha ...
E no esvaziamento do tanto resplandece a minha alma...
Mas se me fixo em olhares...
Se me perco nas imagens...
Volta tudo ao mesmo... como está...
Sempre...sempre... procurando e querendo mais...
Oh! desalentado estado este...a que estou acorrentada...

A seguir... perco me em rezas e pedidos a Nosso Senhor...

Apraz me esta calma lenta
Que caminha sem falar...
Fica longe a confusão aguda...
Os uivos dos lobos
Que me querem amordaçar...
Contento me no recosto deleitável
Do sonho que me há de reanimar...
E em gestos lentos
Em misteriosa precaução
Fecho os olhos e conjecturo
Que voei para lá das estrelas
Sonolenta... estonteada...
E na graça consentida
Me sento... renovada...
Num pedaço de céu
Que me embala sem parar...

É linda... esta voz que chama por mim do outro lado...

Monday, January 21, 2008

Não faz mal... mesmo nenhum mal
Estar me assim quieta...
Pois porque é no sossego que me acho
Sem ter ninguém por perto...
Só o sol e as estrelas
E a lua devagarinho
Encaminhando se por cá
Alada...leve...levinha...
Tudo se desfaz... na subtileza do toque...
E na pele fina bordejam as borboletas...
Na fragilidade do som... rompem se laços...
Nós... que me prendiam...
Voltaram as aloucadas a suas moradas finas
E na assombração dos pensamentos lentas e inquietas
Envoltas em chamas e em ardências permanentes
Iam se as donas atarentadas nos seus delírios
E engasgadas do acontecido... e até mesmo ...
Em pouca conformidade com as premícias alegres e felizes
De raiosa manhã em que todas se decidiram pela vil feitiçaria...
Na recepção a suas moradas acorreram as serviçais
A anunciarem a chegada de uma certa autoridade da vila
E que seus maridos estavam fechados em seus gabinetes
Se entretendo em palavriado secreto e que de nada se sabia
Mas que a coisa devia ser séria...
Ouvira se um gemido e um grito de espanto e de alerta...
Recataram se as ditas em seus quartos...
Entupidas de curiosidade... estudiosas por mais esclareza e decretos...
Soube se mais tarde por toda a terra ... que aparecera morta uma certa donzela...
Linda... de estoirar o coração a qualquer...
E que não se lhe extinguira a beleza... muito pelo contrário... enaltecera se
Na pose escultural de uma santa... de rainha... de uma princesa...
Choraram na pelas casas pobres das redondezas...
Que não é em vão que Nosso Senhor as manda assim para aqui... de certeza...
E que se aprochegam no intuito de aperfeiçoar a raça humana e seus decendentes...
Em cuidados e prodigalidades...ágeis no maneio dos parceiros...
E aloucados se retesavam os demais no preciso momento do arroto...garrote ardente...
E nela se endemoinhavam perdidos se entrelaçando na pureza da pequena que os deixava fazer
Nascera livre e era estrelinha perdida nas beiras dos rios...achada nos palheiros ensoleirando vazios...
E que a pobre estava só nesta vida... e a mais... neste desassossego...
Mulher aparecida dias antes nas tasca e tabernas ... empestadas de homens e bêbedos...
E que gostava de se aconchegar ao colo dos manezes de posses e dinheiros...
A bem dizer... uma qualquer comediante... cigana...
Ou alguma reclusa acabadinha de sair da cadeia...
Não se lhe conhecia nem mãe nem pai nem família qualquer...
Linda...linda era... por isso a tinham recolhido da terra...
Até houvera quem dissesse que fora fruto caído da árvore fora de época...
Mas o que se tinha por certo é que fora no acerbo de uma carga qualquer
Que se desmanchara o crânio... se despegara o lindo cabelo... e se fora tanta beleza...
E ouviu se por montes e campos os tristes cantos saudosos dos rapazes em desassossego
Que não se deram nunca a conhecer... mas que juravam e prometiam não mais ter sossego
Aquele ou aquela que fizera sua paixão dissipar se...desvanecer se...
Que sem ela não se aproveriam a viver... doce... angélica pureza...
A menina que tiveram nos braços e a quem se prometeram...
Ah! indigna! amaldiçoada! a criminosa da requintado sentença!
E na denúncia prévia da sábia e segura vingança
Se tinha o grupo das vilãs assustado ... mas coeso...
Sim... coesas...duras como as peras que não apanharam sereno
Que não deram as suas faces ao sol...que não se aqueceram no benifício do calor comovente
Que enche a alma de sossego e se deleita nos sorrisos caridosos e atentos
Não sabia aquela gente que a vaidade incha e a nobreza dá rebentos e trepa para o céu
Depositanto ninhos... nichos de pureza... esses onde se vão abastecer os passarinhos e que a gente gosta e lembra...
Cheiravam a engomado e as pregas de suas saias afugentavam a boa gente que se assustava á vista desses corninhos que se debatiam e crepitavam sofrendo... levando de vez enquanto um bofetão para se terem em sossego em seus lugares pequenos...
E depois serviam no consentimento severo de tudo a que seus para ordenavam por decreto...
Entregavam se num encosto supliciado e austere a seus donos para lhes aliviar as necessidades supremas...
E eles tinham nas seguras e exemptas de dúvidas a tudo que se relacionava nas suas vidas em concreto...
Mostravam se inocentes nas prestações de suas teses... pois que para desempenhar o papel
Só uma grande dose de fel e de malagnidade pode explicar o lindo corcél que dali se despegara naquela tarde concreta...
Suspeitaram no princípio e depois das certezas germinaram o plano ... o embrião cresceu e o monstro revelou se na contenda certa...
Viram passar o féretro na rua... lá longe... uma procissão seguia a carroça velha ...
Mas no ar soltavam se aromas e até houve quem dissesse que em volta da saia soprava um ventinho alegre levantando o pano para mostrar uma coxa firme... rosadinha e trémula...
Eram os solavancos da carreta sacudinho leste o corpinho tenro e leve...
Viram na passar arregalando os berlindes grossos e via se lhes um branco mesclado de castanho
Turvara se lhes a vista de súbito na delonga do percurso alheio...
Caminhava altiva e austera toda a confraria de compadres persignando se em benções solenes...
Houvera missa e o Sr Prior recomendara que todos num gesto comprovado de benigna fé
E nunca em brusca manifestação escoltasse a última caminhada de uma pobre que nada tivera...
E na bondade escrupulosa do Senhor... se ajeitou a aldeia no todo a harmonizar o desfecho trágico desta qualquer...
Passava lenta a procissão ... sem sussurros quaisqueres...nem uma palavra sequer para aliviar
o silêncio pesado e frio que envolvia o dia certo...
E acorreram as Donas em passos aligeirados como a esconderem se... por debaixo de um soberbo sobreiro ... olharam se curiosas e atentas trincando com ganas os lábios finos e já sumidos .
Foi nessa altura que o céu se abriu num rasgo generoso e ternurento... e a urna velha com as carnes tenras encheu se de uma luz radiosa e quente...e o astro divino vestiu o ataúde de um raiar doirado que se apegou com firmeza á testa da inocente...
Tudo o mais se dissipou numa confusão tremenda...dispersou se a turba em volta do caixotão... titubiando em acesa exclamação e até já a chamavam santa e que fora abençoada á hora da nascença...
Caiu de repente uma chuva horrenda...faíscaram torrentes e as Donas regoziram se do tormento... fisgaram com gestos obscenos a tomultuosa corrente que se desmanchava já em lamentos...
Mas o que elas não viram... e a tempo... foi uma seta incendiar se nos céus e logo a seguir...
Uma bola de chumbo fendendo lhes a todas a cabeça e rompendo as até ao coração...
A procissão caíra nas terras lamacentas e ficara boqueaberta na visão do fatídico despacho...
Cinco... de uma vez...
E jaziam... esparsos pelo chão adentro...pedaços de corações mirrados e secos...

Levava a menina nos lábios... para a cova no chão...um sorriso ténue... em recatada concordância...

Quanto ás outras... fecharam nas ás cinco num caixão... amigas para sempre...em atrapalhada restauração...

Por esses dias chegara á aldeia uma gitana... ladina... armada de um chicote vermelho...
Agora por aqueles sítios nunca mais nada seria na serra... no leito do rio... ou em seara alheia...
Em carícias e miares mansos...

Saturday, January 19, 2008

Gostava de ser como o passarinho que canta...
Como a avezinha que dança no céu sem parar
E nas voltas e revoltas dadas e que encantam
Mostrar todo o meu entendimento sem nunca parar
Porque é só nessa circunferência de ideias
Que eu sei e me posso explicar...
E nos responsos de meus serenares
Vou atrair e arrebatar olhares singelos
Que me hão de beneficiar...
E hão de me trovar... sim...sim...
Esses amantes requintados...
Que se formoseiam na encantação de meu bailar...

Wednesday, January 16, 2008

Onde estás meu amor...
Por esta terra por este mar
Pela eternidade azul...
Na minha pele... alojado e quente
Estendido no sossego
Dos meus olhos pequenos
Nos prados do meu serenar?
Diz me lá ... só num momento...
Onde te vão os passos assentes
Tu... que não te queres mostrar ?
Náo me adormeça nunca o esquecimento
Desses teus beijos aprimorardos e atentos
Que vinham e voltavam
Esvoaçando de lá para aqui...
Daqui para lá...
E que me tinham distinta...
Encostadinha assim...a teu lado...
Mas o que é isto? gritaram espavoridas as senhoras assanhadas enraivecidas...
Onde se terá metido a bicha? estava espalmadinha... mesmo aqui neste sítio...
E todas a procurá la... curvadas sobre as peitaças
Embestavam se em raciocínios tremendos e impuros...
Que já se tinha ido com os abutres... os grifos e os demais...
Que alguma fera do mato a devorara ainda madura...
Mas ... descontentes com os achaques dos impulpérios desígnios
Começaram a olharem se... desconfiadas e em racicínios descabidos...
Teria sido alguma delas avassalada já de arrependimento profundo
Que se teria esgueirado no prado a acudir a pecadora devassa e imunda ?
Começou a atestarem se os primeiros incómodos ...
Não teria sido um acto descautelado e pouco seguro
O de se ter feito ali a justiça premente e súbita ?
Mas isso já não interessava... era preciso descobrir o corpo... a todo o custo...
Apartaram se as amigoas em pequenos grupos e lá se foram todas
Com olhos pregados no chão na busca angustiante da meliante
Que por milagre se tinha abalado dali... mesmo á beirinho já do escuro...
Começaram os primeiros gemidos da tortura... e se não estivesse morta?
E se se escapulira pelo mundo fora... desbocada e contando a malignidade por esse mundo?
Morta... mortinha... juraram todas terem na visto derrubada... ali...
E até houve quem afirmasse lhe ter visto as tripas e a queixaça fora do sítio...
Mas... fora mesmo assim?
Curvaram a cabeça... todas... na obstinação da certeza... inabáláveis no veredicto da sentença...
Mas onde? rebuscaram o chão todo...todinho... por dentro das matas vizinhas
Furando com as mãos criminosas as silvas densas que lhes barravam os caminhos...
Pontapeando com impulso bravo o ervado cerrado ... o pasto das suas manadas rijinhas...
E na cegueira de seus propósitos... na obtusão cobarde de suas alucinações
Achavam se por vezes premiadas na busca... tomando um toro de madeira
Por uma perna ou cabeça fria... que para ali rebolaria sem desígnio fixo...
Levaram as mãos á testa... esfregaram nas á vestidura guarnecida
E desmembraram se em jeitos alongados de quem já se sabia perdido...
E agora como iria ser... o corpo sumido... tanto melhor... nada a temer...
O segredo estaria ali para sempre salvo e destemido...
Mas por outro lado... se a libertinosa se tivesse escafodido
Estaria ela por aí acatada e recolhida... agasalhada num qualquer esconderijo?
Por ali mais nada havia a fazer... tudo a suas casas... e chave no bico...
Ninguém nunca poderia saber do acontecido...
Volveram a suas herdades com ar estontecido...
Ainda se cruzaram no caminho com um seu vizinho
Que na ignorância do facto as saudou levando a mão ao chapéu e esboçando um sorrisinho...
Elas logo trataram de retribuir num ar de inoçência enfraquecida...
Não teriam nunca mais sossego nas suas vidas...

Monday, January 14, 2008

Chegaram a suas casas... mudas...
Uma ou outra falava inutilidades do conluío
As mais espertas e estouvadas...
As mandatárias do ilícito crime
Vinham á frente... ar abetoado e explícito
Tinham salvo a honra das mulheres de bem...
Das senhoras e mães de família...
Já que os seus homens não se meteriam nisso
A elas de enfrentarem a temível bicha...
E foram se ligeiras... trauteando...
Cada uma para suas vidas...
Preparou se a janta e veio a hora da comida...
Seus homens arregaçavam já as mangas enodoadas
Do trabalho e faina do dia...
Resmungaram alto o atraso da sopa e do manjar divino
A que se tinham apregoado o direito desde o santo dia
No altar da igreja... em arraial farto ... no dia de Maria...
Elas destapavam as tampas das tigelas e serviam...
Chamavam pelas criaditas que se demoravam na corrida
E clamavam os horrores dos tempos em que o pessoal
Já pouco ou para nada servia...
E olhavam os seus homens com tal obstinação
Que lhes perguntaram estes que raio hoje se passava ali...
«sou vossa mulher meu marido e gosto de vos ver bem nutrido»
Ora essa... a minha mulherzinha...tão preocupada com o seu janotinha...
E riram os dois... em sorriso de adivinha...
Pois que pouco ou nada se interessava ele pelos seus ditos...
Achegou se a tarde aloucada do crime... e em certa casa vizinha
Remoía o acontecido uma das criaturas dotadas no crime.
Primeiro achou se acertada na topada da sangria
Mas respingara lhe para o fato pingos do sumo da veia da dita
Que não a deixariam inocente no crime...
Tentou inocentar se em demasia... que tinha sido um favorzinho
Á linhagem pura das donas da confraria...
Prometeu se a lavar a blusa e que depressa tudo seria esquecido...
Pôs se a olhar... e a converter para si o peso da enxada
Que a outra levara pela cabeça acima...
Tivera apenas tempo de lhe avaliar a pele fina...
A pecadora não teria sequer um enterro...
Seria toda ela corcomida pelos gaviões e outros bichinhos
Que pairavam alto... lá no céu... longe das vistas...
Mas...pelo sim pelo não... haveria de falar ás amigas
De lá irem espreitar a darem um jeitinho aos arbustos e demais folhagems
Para que ninguém ao ali passar desconfiasse do sucedido...
Nessa noite houve quem não dormisse de boa consciência
Apesar de se terem todas acomodadas ao mesmo e jurassem
Terem se por libertadoras do vício e da acção... descomprometidas...
Que fora Deus que lhes guiara a passada... e a vontade tinha sido divina...
Que a vida era mesmo assim... e que tudo continuaria como até ali...
Na manhã a seguir ajuntaram se todas a escutar a parávora conjurada...
Daquela que lhes propunha um fortuita ida ao local do morticínio...
Combinaram a hora pela tarde a meio... e que seria afinal ...
Só para abrigarem o corpo dos olhares curiosos
Que por ali quem sabe... passariam... e que até alguma curiosidade oferecesse
Na procura insistente da chave da desgraça ali estampada... e já morrida...
Marcharam se todas em batalhão fidedigno até ao local batido...
Arregalaram se lhes os olhos... tremeram se lhes as pestanas...
Arrepiaram se lhes as coxas e as mamas...
O corpo tinha desaparecido...

Sunday, January 13, 2008


Deram com ela passados dias...

Até houvera quem a tentasse reerguer...
E a chorasse ... até ao entardecer...


Entrou pelas brumas densas das tardes frias
Esfriaram se lhe as pupilas gastas pelo negrume dos dias
E sussurros imperceptíveis acudiram...
As maõs ainda aguentavam o traquejado fino
Do desembestar das ervas grossas e das silvas
Que a magoavam e a afligiam...
E ela palmilhava em síbilos baixinhos...
Como se uma boca pequenina implorasse
Pedindo auxílio...
As pernas estavam enfraquecidas
E a peitaça gorda de autrora se espinhara
Pelas danças e fugidas do jogo das escondidas...
Tinha se iludido...
Perdera o fio á meado dos sonhos sofridos
E vira se isolada e sózinha nos preâmbulos
Das jogadas e sovas que atraíra...
Lesta na jogada... escapara se sempre...
Mas no fim da jornada sentira se já cativa...
Enfraquecera lhe o moral... da tanta falta de tino
E decidiu um dia... depois de preces infinitas
Se reerguer sózinha pelos campos alheios... vizinhos...
Mas ninguém sabia de seu acelerado desígnio
E levantaram se rumores se na vila...
Caçá la... como se cerca e se mata um bicho...
Ergueram se brigadas de malfeitoras..
Mulheres defensoras da moral há muito desvanecida...
Viram na numa corrida... esvaiando se em suores e gritos
Nada roubara ou extorquira...
Seus homens sim... tinham se mostrado ternos e oferecidos...
Enleara se com eles... sim... em jeitos de redobrada sabedoria ...
Oferecera se de súbito... para lhos transmitir
Num desespero inato de se prendre á vida...
Mas a dona já não tinha saída...
As matronas encolerizadas
Sacaram de pás... enxadas e demais utensílios
Gritaram alto a sentença combinada e finda...
Não se apiedaram da passada curta...estreita e esmorecida
Dos olhos grandes...verdes...que nadavam na serraria
Dos braços magros e desfalecidos...
Três!... toma lá que já estás!!!...
Abrutalharam se... todas enraivecidas...
Eliminara se a traidora... toda a algazarra e alarido...
Voltariam a ser as Donas respeitadas das aldeias e vilas
E iriam na igreja pedir ao Senhor padre a absolvição
De seus pequenos pecadilhos
E rezar se iam dez... vinte avés Marias...
E alguma oferta também para ali atraíriam...
Nem se abeiraram da ímpia...
Bastaram lhes as miúdezas á vista...

Dobraram para suas casas tranquilas...

Raios as partam a todas e ás suas vidinhas!!!

Nenhuma se lembrou nunca... de espadelar o sonso do maridinho...

Friday, January 11, 2008

A minha história já foi escrita...
Percorrida por assaltos... adivinhas...
Entendi me com o divino
Em conversas amansadas e tranquilas...
E na aspiração de meus ensejos
Prometi me ao Senhor...
Na fila... ser a primeira...
Na exortação de meus pecados...
Das minhas maneiras...
Fui me parindo assim... sem jeitos...
Neste mundo primeiro...
Crepitei...esguinchei...
No terror dos tempos alheios...
Revoltei me... amotinei me
Por dentro das traições e das guerras...
Ah!... e depois... na fragmentação dos compassos...
Nos achados intemporais da consciência única...
Me achei translúcida...
Desembustada da devassa atrapalhação...
Estoitice pura...

Um átomo consistente de silêncio
Remeteu me para as alturas...

Agora aqui... estou segura...
São airosos...
Os sons que te saem da boca...
Ramos de rosinhas que acenam... sózinhas...
E na oscilação dos tons
Desatinam se me os sentidos...
Na antiguidade da minha pele
Na denúncia do meu perfil
Nos pensamentos incitadores de meu fogo
Na inclemência do tempo... me verifico ...
Voam no ar levinhas...
Essas lindezas que verifico...
Eu sei... eu sei... essas flores não são para aqui...
Mexericam sombras...em volta de mim ...

E no sossego de meu templo
Me assento tranquila...

Wednesday, January 09, 2008

São tantos os beijos que me acometem
Vêm todos lá de cima... jucundas sinfonias...
É a hora do carinho...
Só alguns acenos...
E tudo se transforma
Em açucarada tentação...
E arde um fogo singelo...
É a hora da exaltação....
A hora melosa da bonançosa visitação...
E batem fortes... nos ânimo secretos...
As enxadadas fortes da pulsação...
E na hora do sossego... atraiem se os amantes...
Atraentes... alisados no chão...

Não poderá nunca á minha beira... amor...
Parar de bater o teu coração...
A morte é o meu túmulo... meu decreto...
Prometeram me danças e canções
No acolhimento solene da recepção...
E do incenso que brota no meu peito
Progridem fantasias...doces suspeitas...
E acomete me sempre uma voz aduladora
Que lisonjeia e aponta o derradeiro passeio...
Sou brava... pelejadora...
Ninfa esquecida dos mares...
Venha...venha a desconhecida comigo se haver...
Na presunção malvada de me reter...
Vou olhá la bem de frente... anunciar me...
E a seus pés me estender...
Segui la ei calma e serena...
Sem receio nem penas...
Porque a predição foi amena...
Na constância dilecta do meu sossego..

Tuesday, January 08, 2008

Quero te estreitar no meu peito...
No asseio dos meus lençóis brancos...
E por meio de suspiros insuspeitos
Estremecer... na ternura do teu desejo...
E se os teus olhos pernoitarem nos meus
As minhas lágrimas se expandirem nas tuas...
Terei na manhã pura...
O coração avolumado...
Os lábios rubros e ampliados
Do tanto nos querermos

Pois...pois...só...
Na observância do teu desejo...

Monday, January 07, 2008

Sou brava... novinha em folha..doirada...
Quero me renovar na exaltação do teu peito...
E sentir me genuína... nos teus desejos...
Esconder me na tua barba sem jeito...
E desachar me nos bosques frondosos
E em tua boca me afagar numa roda de beijos...
E na ampliação do meu desejo
Ter me em ti... bem aconchegadinha no teu jeito...

No esmerado contorno de minha afeição
Vou pintar com tintos rouxos e vermelhos
O meu abraço... o teu encosto...
O assento consumado de minha inspiração...

Saturday, January 05, 2008

Não me inspira a crueldade...
Não me atraiem a secura nervosa das palavras...

Prefiro antes o silêncio compacto dos astros
O branco que limpa e enternece...
E depois há também aquele vácuo leve
Que se instala no corpo e se desvanece...
E aquela nublina aberta
Que nos colhe e aperta...
E a chuva miúdinha
Que baixinho... conversa...
E os pássaros de biquinho aberto
Que só cantam para nós... os seus versos...
E o marulhar das ondas dormentes
Que se aninham nas praias desertas...
Ah! não se abeirem de mim historietas
Contos... anedoctas e conversas...
Vou me deixar embalar docemente
Numa braçada leve de vento...
E aqui... na minha cabeça...
Vou sonhar me... ainda casta e pura...
É na tua boca molhada que me quero reanimar...
E no despudor de minha inspiração
Alegro me... da ignorância de tua deliberação...
Não te acordes amor... desse recatado sonata...
Os teus olhos secretos não vislumbrarão nunca
A boca ameigada e apressada
Que se encosta juntinha... á minha morada...
E que o meu sopro aguçado... te aqueça o repouso
E que em ti... não haja sinal de alteração
No ditoso prenúncio da minha ambição...
Descansa leve nesta noite madura
Nesta escuridão segura...
Porque... no contento do teu adormecimento
Alenta se em mim o desejo
De a teu lado nanar... sempre contente...

E foi assim por longos anos...
Nunca ela a ele se revelou...
E nele... a donzela se eternizou...
Vi te no céu...
Eras uma bolinha de cores a saltaricar
Por dentro dos olhos das gentes
Que te queriam experimentar...
Mas fui eu que te adivinhei o cálculo
E vislumbrei a cautela... com que me procuravas
E eu então... esticadinha sobre os meus pés
Chamei baixinho... em tom menor...
Tua graça... num sussurrar...
Olhaste me... sincero...
Denunciastes te num sorriso terno
E eu desacautelei os meus sentimentos
E te mandei célere... adoidadamente
Um raminho de beijos meus... para em mim...
Te arredondares...

Thursday, January 03, 2008

Vou aquietar me ...
Na contemplação embavecida do céu...
Deleitada... entrego me aos astros
Que cantem... e entretenham se em mim...
Que eu hoje me cheguei desbotada
Tão cansada da teatrada... que se ensaia por aqui...
Vem me visitar...
Alegrar o meu corpo caudaloso
Ebastecer me de violetas e rosas...
Enraizá las no meu coração
Para que de noite...
Na magia de teu andamento
Na sincronia da minha pulsação...
E num sonho empulado
Te possa cheirar e tocar
Como se fosses... só...só meu...

Vem ... na lentidão da tarde
Solene e atento... arrebatar me...
E valente... num rapto quedo e mudo
Enlevar me... para o meio das estrelas
Voletando como a andorinha
Leve... na sapiência de seu percurso...
Vou cantarolar até me fartar...
Vou trautear aquele salmo...
Vou me purificar na reprodução sincera...
No deleite estremoso daquela cançao fortunata...
Porque amor... austero é o amor que te trago
E nele... a minha alma a Deus empenhei
Porque...quando te exalto neste sentimento extraordinário
É ao Senhor que visito...
E no altar risonho da primavera esperançosa
Sorriu... e encosto me a ti... no crédito pioso da união carinhosa
Na dadividade desinteressada de meu sentimento
Aconchega te então carinho... na cama fofa de meu pensamento...
No ventre prenho de meu amor...

A natureza de meu desejo... amor... é divino
E na largueza da minha pele cabes por inteiro...
E ouve ...as passadas que florescem ... sossegadas...
Bem juntinas aqui... juntinhas ti...
Amor...
Deslizam em mim vestidos de cores
E soam as trombetas e tocam as cordas
E nasce em mim um tom melodioso
Um choro de bemquerença...
Vou te dar a minha música
Cantada no estreitamento de um beijo
No regozijo de jeitos
No desapego de te querer para mim... inteiro...
Vou te dar amor esse canto benigno
Que cresce em meu coração...
E vede... aproximam se anjos
Numa visita solena
No deslumbre do arranjo
Que em nosso colo... se tangem os beijos...
Vou te dar amor... a minha música por inteira...

Tuesday, January 01, 2008

Já vi estrelas azuis rosas verdes...
De todas as cores...
Que não existem aqui...
São todas reflexos coloridos
Reminiscencias... repercussões das vozes
Que nos chegam do outro lado...
É tudo um sonho muito bem organizado
Muito disputado...
Só acredito nos pintores
Que por entre os sonhos as estudaram
E que as transportam nos olhos
Espalhando as por cá....
São mágicos... os meus amigos...
Parecem que nada vêem...
Choram as crianças
Uiva o vente
Cai uma chuvinha sobre a população...
Têm fato e gravata os homens morenos
Elas postam se soltas na boca do tempo
E depois tudo estremece
E o chão tremelica por debaixo dos saltos
E continuam a chorar os miúdos
E correm daqui para lá
E olham me...
E eu abeiro me delas...
Ambicionando dar lhes um colo...
Mas os pais olham me desconfiados
E eu retiro me... grave...
Porque aquela gente... na falta do movimento
Inflige na reprimenda... certa repressão...
Eu cá para mim o que acho mesmo
É que não querem sujar os fatos elegantes
Com que se passeiam ma méscula parda da multidão
Até porque ninguém se fala...
Ninguém se toca...
Denuncia se um certo autismo no andar da procissão...
Ainda não houve quem percebesse
Que o choro da meninada é para acordar
O coração adormecido dos progenitores
Embalados no colorido cortejo...