páginas brancas

Friday, April 27, 2007

Se os teus olhos pudessem ver
Aquilo que em mim sustento
E o tanto que em nós teima
E o tanto que em mim condenas...
São auras quentes que te mando...
Esse ventinho ... esse sopro...
E os rumores que te chegam ... essas levezas...
Amornando o teu ser... esticam se... lânguidas...
E no caminho... visitando te...
Esquadrinham... corajosos... um pedacinho teu...
E lá se deitam... estendendo se... mansos...
E se me viessem demandar
Aquilo que em ti pretendo
Terias me por terno... amoroso e atento...
Na bemquerença que em ti repousa... contente...
E na vista das rosas que te aceno...
Senhora... para mim te virarias
E pedaços de ti me chegariam
Bolinhas mornas que me deleitariam...
No abrigo do meu propósito sereno...
E é pois em almíscaras delicadas que me afirmo
Corajoso... na definição sublime de um teu despertar...
E me aquieto sózinho... esperançoso ...
Vem... minha alminha pequenina
No meu ombro te fechares...
E na titubiante oscilação tua...
Na guarda duvidosa de meus intentos
Repousa... segura... confiante... contente...
Neste pedacinho de braço meu...
E no adiantamento da miragem
Corre... corre amor...
Te assentares no colo meu...
E nas formas cheirosas dos beijos
Enleiando com bravura o corpo teu
Que te fiquem coroas... esplendores de reis...
Grinaldas pequeninas nos cabelos finos
Pedrarias... são jóias preciosas... essas que te mando...
Pois que a afeição que te tenho... amor...
É a luz de Nosso Senhor
Resplandescendo sobre os olhos teus...
Ouve... ouve ... Menina...
O Canto meu....

Monday, April 16, 2007

Venham ... corram por dentro do meu coração
Flores... querubins... e esses anjos que cantam
E esses meninos que chamam por mim
Neste bocado de escuro... da noite malfadada
Que por dentro de mim espia ...
São dolorosas as passadas
Que se atrevem no caminho ...
Acheguem se pequeninos... na beira do lençol frio
E com beijos ... com carinhos ...
Aninhem se neste bocadinho fino
Nesta réstia de pano sublime
Beijado pelo sono divino
E aqueçam se todos aí ... na fralda minha ...
Vinde ... ajuntem se ... velozes ...
E... neste morninho se deixem ficar ...
Aqui... aqui ... pertinho de mim ...

Saturday, April 14, 2007

No desígnio da noite segura
Me entreti serena... agitada no vento ...
E do meu ânimo se soltou uma voz
Um serenim cuidadoso ... mimoso ...
E no meu corpo se escondeu... veloz
Um passarinho que em mim se aninhou...
E no peito derramou se um calor
E na alma dilatou se um mar tremendo
E no aconchego das pálpebras
Uma concha se ajeitou...
Ficou me o verde colhido nos olhos
Da cor das vagas que assaltavam ... intrépidas ...
O corpo dos amantes fugosos
Unidos no prolongamento afectuoso
De quem ama e procura ...

Inventaram me ... meiga e sereninha ...

Thursday, April 12, 2007

A Senhora Foster ainda era uma mulher atraente. Altaneira , decidida e opiniosa, não pedia nunca licença para dar uma ou outra opinião por mais ou menos conveniente que fosse.Tinha aquela particularidade das mulheres fracas que, achando se astutas , espertas e infalíveis,vivem no limiar da sobrevivência, tendo por detrás de si, toda uma corte de pessoas a bajular e a adorá las, preenchendo dessa maneira as suas tardes e serões adentro , na preparação das listas a entregar á criadagem, das ementas a preparar, e as visitas á costureira que muitas vezes se mudava para a sua casa, tal eram pesadas as encomendas dos cortes e galões a aplicar em seus pesados fatos .E a senhora era caprichosa no querer, e entregava se, solta, a uma panóplia de audiência apoucada no espírito e em sabedoria. Encavalitava se sempre numa dobra desdenhosa e malcheirosa de apetecidos achados, de coisas ouvidas aqui e acolá,sempre e sempre pelo prazer aguerrido do apanágio e esforçava se por mostrar se sempre atenta e preocupada com os cidadões da cidade, abrindo se em lamentações e piedades para quem sofresse um revés de sorte ou do diabo. Adorava ver se rodeada de grandes honrarias e festejos, em troca de informações vantajosas que poderiam beneficiar lhe as relações mais ou menos favoráveis que tecia com os membros das famílias abastadas da cidade.Não que fosse muito esperta ou benevolente no trato com os demais que a circundavam, mas a Sra Foster era suficientemente endinheirada, para se deixar rodear por gentes curiosas e dadas á má língua, densas no olhar e prontas na jubilação das suas posses e criados.Era farta a panóplia recheada de olhares, que a visitação deitava aos bolos e ás iguarias que oferecia na hora marcada dos lanches das terças feiras á tarde.Enquanto houvesse mulherada a chegar lhe para os festejos , ela seria sempre falada e honrada por todos os sítios da cidade.Pois que existem pessoas que só conseguem sobreviver, rodeadas de afagos, paparicos e mexeriquices, a que se entregam, radiantes , na posse de tantos cuidados.A Sra Foster era solteira, rondava os quarenta anos e nunca quisera dividir a vida com homem algum, pois encontrava nas suas posses e dinheiros o resguardo suficiente para a sua alma aquecida pela acumulação dos juros que lhe sorria, todos os meses no banco, ali mesmo ao lado.Ninguém lhe conhecia qualquer suspirante, e os cavalheiros da cidade há muito tinham desistido de a visitar.Pouco ou quase nada se sabia dela, a não ser, haver no seu quarto uma gaveta sempre fechada, e cuja chave andava sempre com ela, perfumada , quentinha e amornada, juntinha a seu peito. Por isso, e pelo cansaço infrutífero dos cavalheiros que dela aos pouco se afastavam , quem por ali passasse ás terças feiras, olhava sempre com alguma cobiça, as senhoras que lá a iam visitar.Soube se um dia que recebera um certo cavalheiro a quem dispensara uma tarde.Fizera se anunciar, numa voz amena e frágil, que denunciava alguma tranparência nas palavras que formulava, de forma lenta e espaçadamente, num jeito tétrico e aflito.Contou a criadagem que era alto, acertado no fato , bem cheiroso e que ao vê lo, até a Sra corara, e que , até por pouco não desmaiara.Do que haviam falado, só Deus poderia dizer, mas que houvera gritos e lamentações,isso sim, era verdade ... constara se mais tarde que fora um desconhecido que se tinha a ela chegado, num momento menos bom , e que ousara pedir lhe algum favor, ao que a titia se lamentara, que nada lhe poderia fazer,que não tinha qualquer responsabilidade no assunto, que para o governo do jovem nunca tinha sido consultada, e que agora , tratasse ele de se reabilitar, que administrasse melhor a sua vida, chamou o de leviano,imprudentem,folgazão e de imprevidente ...louca tentação a sua de se querer retirar... não vira nunca, a escassa luz que o pobre rapaz trazia no olhar, não lhe ouvira o respirar célere e tremido,a voz a desfinhar se ...conseguira ela do assunto apartar se...Mas um dia o ténuo vulto regressou lhe de noite, arrastando atrás de si uma sombra desmaiada ,leve no andar, tremendo sob a frágil aragem do brando zéfiro que soprava,como se estivesse a encorajar o evento no encontro premente...quando a foram chamar,não o quisera receber,que ele desaparecesse, que a não importunasse.Valera a piedade de uma criada, por fim, que os recolhera num dos muitos quartos da casa, em troco de uma peça de lã para a estação invernal.Na manhã seguinte a casa amanheceu num silêncio sepulcral... pôs se como sempre a toalha de linho lavada e cheirosa, vincadinha, bordejada de rosas.Por cima, a chávena da mais pura louça de Sévres, talher de prata, um pudding de pão, receita muito antiga, que a Senhora fazia questão em manter, uma velha tradição da casa de seus pais, e acima de tudo, tomava a sua primeira refeição sózinha.Quando se levantou naquele dia, perguntou pela visita audaciosa da noite anterior, ao que lhe respondeu a subordinada que nada sabia sobre o assunto..Sentou se a senhora pensativa, enrolada em recordacões que lhe traziam ondas de calor ás faces lisas, que salpicava de pózinhos mágicos para aparentar um ar mais menineiro e apetitoso.Pouco ou nada dormira naquela noite nem nas anteriores, desde a visita da sinistra personagem.Pousou levemente a cabeça sobre as suas mãos assentes em cima da mesa.E sentia lhe fugir aos poucos aquela fria temperança, ostentosa segurança a que se tinha obrigado desde há ums anos para cá.Não lhe saía da cabeça o homem magro que se atirara a seus pés em jeito de desespero,de pura aflição. Mas o pior, tinham sido os espasmos leves e sentidos que se embrenharam , levinhos em seu corpo.Não, pensava , nunca mais o quereria ver, que ela não precisava de ninguém para dividir as suas horas de foguedo e despreocupação.Acomodara se a uma vida tranquila, sem tumultos e emoções , e a única coisa que lhe preenchia a vida, era a herança farta, recebida da tia Margaret, que lhe asseguraria bons dias, até a velhice chegar...gostava de ostentar belas peças de faiança, rico mobiliário, pesadas jóias,para se ver sempre referenciada e invejada pelos demais que com ela em seu domicílio se entretinham. A Madame Foster não era indiferente á custosa lembrança, que a remetia sempre para tempos há muito empurrados á força da sua mente e aguerrida vontade.Apertou levemente o corpo, num espasmo saudoso na recordação dos muitos beijos, e das promessas em tempos idos dados, dadas... ai... se ela pudesse ter a capacidade de não pensar... tinha de continuar a deixar se levar pelo engano sórdido das horas das visitas, e da permanencia fingida das tantas pessoas que lhe devotavam amizade... tinha de se mostrar indiferente, alheia ás necessidades da alma e afastar decisivamente a fantasmagórica recordação da sua mente.Ergueu se de novo, com o rosto levemente amachucado , levando as mãos ao cabelo farto e penteado.Tinha o mandado embora, fizera se o que havia de se ter feito ... Deixou se abeirar por uma das meninas ao seu serviço na casa , obrigou se a mastigar e a saborear bem o gostinho bom da marmelada morna e do pão cozido de madrugada.Nada a afastaria do seu intento ... nunca as coisas poderiam ser diferentes daquilo a que se atestara fazer.Mas , no momento em que se ia levantar , naquele instante em que se apoiava no canto da mesa para se erguer, surgiu lhe , não se sabe de onde, o rapaz da noite anterior.Arqueou a cabeça , fixou nele os seus olhos redondos e duros , e estupefacta, balbaciou muito lentamente... voçê !...dois sons cutilantes, que mais pareciam o som de um candelabro de cristal a desfazer se num chão marmoreado e frio.O rapaz deixou se ali ficar, escondido, na luz da sala que era falha naquela manhã,e que lhe ocultava as feições. Caía lhe da cabeça um cabelo liso e apoucado , mas que deixava transparecer uma luz que lhe chegava do reflexo de seus olhos ternos e mansos. E numa voz em que o medo e a esperança se entrelaçavam, como numa concordancia de perdas e ganhos , murmurava em sottovoce...só a tenho a si ...e a Madame Foster, bracejando, numa última tentativa de fugir á sua lembrança, e sentindo turvar se lhe a vista ,ao mesmo tempo que a língua se prendia na garganta e amolecia na boca ,fraquejou nas pernas , e subitamente estatelou se no chão , vendo por meio de brumas pegajosas o espectro de alguém que insistia em voltar.Voltou a si, estendida num canapé do seu quarto fresco e limpo, rodeada de cuidados e mésinhas...pediu que a deixassem só , ao que prontamente obedeceram , não antes de lhe estenderem um envelope poeirento e gasto , entregue pela indesejada visita, na desesperada tentativa de se explicar. Agarrou o lentamente, com gestos que denunciavam alguma agitação.Não seria a primeira a abri lo. Alguém já se lhe tinha anticipado.O que lá estava escrito não mais seria um segredo que a Senhora Foster poderia remeter para dentro da sua alma, fugindo de explicações e responsabilidades se assim fosse o caso .O que ela se aprontava a ler já era de certeza do conhecimento de quem lhe mandara entregar o sinistro bilhete.Cedeu indiferente á obrigada investida e abriu o com jeitos que acusavam nervosismo, alvoroço e ansiedade.No momento em que se preparava para desdobrar o papel amarelado e húmido , com as suas mãos esguias e frias , mais parecidas com umas garras ferozes , fechou os olhos pesados como barras de ferro , ums olhos que se tinham imposto há muito uma clausura no pensamentos e nas visões, a que de vez em quando a Senhora Foster atentava em sua mente e vontade.Olhou para o quarto , como se se despedisse ali , de uma parte da sua vida, e encetou a leitura da criminosa carta..._"É de minha vontade que a esta hora em que me vou, seja revelado a meu filho, o nome da progenitura materna de sua origem.Para ti me volto, ténua miragem de um sonho frio e desdenhoso, de te ter querido para mim um dia...sim , a mão que para ti se estende, no arremesso desta minha última vontade, é a de nosso filho Martin, que tu, ingrata mulher, um dia renegaste e afastaste de ti. Não te bastaram as minhas promessas de amor, carinho puro e cuidadoso... paixão esmerada que por ti sentia... eu... menino de então... agarrei te em meus braços, cobri te com os meus beijos inocentes, e tu preferiste o colo da Titia ao meu.Escondeste o fruto abençoado do teu ventre maligno ...Soubera do sucedido a astuta Senhora Mary, que logo tratou de te mandar para o campo, para casa de uma amiga.Fizera se o serviço na hora por Deus permitida, e ali abandonaste essa criança minha.De ti pouco ou nada saberia por largos meses...ficara decidido por vós duas que mal o pequerrucho nascesse, se fosse rapaz, o abandonarias.Depressa voltaste para os braços da titia que te prometera a herança em troca da permanência da tua pessoa a seu lado , até ao último dia de sua vida.Depois viria o herdo e a tranquilidade dos teus dias.Indigna mulher, pérfida , que a teu filho trocarias...soube do segredo que estava cuidadosamente guardado no vosso íntimo , por uma tal Rose , a criadita que , cansada das minhas investidas se desmancharia num rolo confissóes e notícias . Procurei e achei o nosso menino.Três meses constava de vida, entregue a um casal que amanhava uma vossa vinha.Louca, perversa, desgarrida. Tive me insano, alienado e debilitado do sucedido.Peguei na ternura e me diluí.A mim se deve a sua educação, o seu fino traquejar e espírito.Te entrego o meu rapagão.O meu, sim! só amado por mim, que amamentei e instruí. Para ti não passa de um estranho que te rogo na minha aflição que recebas e acolhas nesta hora em que me parto.O moçoilo é boa rés.Olha bem para ele e penetencia te mulher... ele não tem mais ninguém a quem recorrer.É apoucado em palavras, o que te vai facilitar o convívio.O nosso rapaz é um exímio pianista.Ainda deves ter o teu piano ... agora é para ele! Maldita hora que me atentou em te ter recebido por pupila.Adivinhava se o que havia de acontecer... numa fraqueza tua, não me resististe... e eu me iludi... enganosa lembrança. Alma impiedosa, imperturbável, destemida, que nem do criador te amedrontarias... pérfida... preferiste as libras! Tive me aparvalhado, adoidado, perdido.Aqui te o entrego... pronto... criadinho.Antes de me ir, só umas palavras... foram esses teus olhos que me perturbaram... facas, punhais, pedras, gelo, que golpeavam e refrescavam as ânsias, os ardores que me arrebatiam.Agora já não mais me poderás trair.Me vou para os braços de Nosso Senhor, para um sítio onde tudo é permitido.Amedronta te mulher, pois agora entrego te, por mim, á justiça divina!Insisti para que o rapaz te procurasse .Por duas razões... por ele, que ainda tem alguém nesta vida, e sobretudo por ti... uma oportunidade para te redimires... Thomas... " Lera a missiva lentamente, pousando a por vezes no regaço e mordiscando o lábio liso, tentando desse modo revigorar o desalento dos seus ãnimos ,que murchavam dentro de si. Quando acabou o estudo minucioso das linhas , da letra fina, estreita e trémula do já ido, deixou se ficar imóvel, numa perturbação esfíngica, que a remetia para alvéolas da sua vida... então fora isso... a pequena e endiabrada Rose... a atrapalhada rapariga fugira uma bela noite, tivera se assim assustada e receosa todo o dia... por vezes pensava nela, tivera a ela só, como alívio na confissão do então sucedido , numa quebra de vontade do tão resguardado esconderijo. Levara a moçoila a mão á boca , na minúcia do sucedido, e os olhos bailavam lhe na face, arregalados, medrosos, estupefactos das palavras ouvidas. Exigira lhe a patroinha silêncio imediato, mas a pobre, estupefacta, estarrecida, se fora ás pressas um dia , na sangrente revelação que nela não cabia. Só... recompusera da prenhez... visitada e encorajada do combinado pela titia, remetendo as penosas recordaçóes para as securas de seus pensamentos esbatidos. Não quiseram a criancinha, e assim tinham decidido , que sobre esse assunto não mais se falaria, que a jovem não poderia negligenciar o seu futuro, juntando os seus fracos recursos com os de um professorinho... que ela, mãe nem pai já tinha, e da familiar dependia. Ela ali permaneceria ao lado da tutora, que por muito tempo nos seus cuidados insistiria. Acompanhá la ao jardim, nas visitas ás amigas, ajudá la a subir no coche, acudindo a pegar e agarrar as densas dobras e folhos dos vestidos. Ampará la nas compras , ajudá la na sua intimidade a vestir se, e tivera se sempre ali prontinha para lhe acudir. E no consentimento da aliança se tinham decidido.A
Senhora Foster estava imóvel, petrificada, estarrecida. Ondas de calor queimavam lhe as temporas, reburesciam lhe as faces, e na dissimulação há demais forçada do seu inigma, desmanchou se em lamentos de arrependimento sentido. Fugira sim, para longe dali, quando soubera da barriga que se anunciou cedo , esticando devagarinho, e por se achar assim assustada, recorrera á titia que apesar de piosíssima beata , sempre enfiada em igrejas, ferverosa defensora de Nosso Senhor, apregoando incessantemente passagens do Evangelho, protegendo se assim das línguas atrevidas, não hesitara em mandá la para longe da sua vista, que aquele não era o sítio apropriado para aventurinhas.O resto , já se sabia, fora o relatado pelo já ido, que não se tivera distraído, na busca incessante das novidades, e que um dia abalou do sítio, desgostoso das infutíferas inquirições a que se obrigava dia a dia, na insistência lamentosa do paradeiro da Menina.Mostrara se choroso, lastimoso, até se chegar a indignar para o fim, em, nem sequer ser recebido no lounge da Matrona, sempre ávido por saber da sua pupila.Deixariam no prostrado , de pé, longas horas a fio, junto ao majestuoso gradeamento de entrada,até que um dia, cansado de tão mau trato, se afastara e procurara então alguém da casa que lhe lhe pudesse dar novas do acontecido.O resto já se sabia... levou as mãos á garganta ressequida, sentia um garrote a apertar firme, como se se tratasse do defunto que ali aparecera para a castigar da vil e ensana traição que há muito conssumira.AH! gritou a inâme... que não tinha sido bem assim... é verdade, deixara se levar naquela escala enganosa de calores que a arrebatia quando se encontrava sentada ao piano... olhara muitas vezes para o seu professor por desobediência á titia... não devia fazê lo, sob pretexto algum, a não ser a franca convicção de se querer esclarecida num ponto algum da lição.Desobedecera á titia que não mais lhe recomendava do que a severa oscultação da sua sabedoria, no que constava ás coisas da música, dos sons e da cantoria..Mas o que ela nunca lhe confessara, era que o tal rapagão, além de ser bonito e charmoso, emanava, não sabia a menina por onde, um cheiro delicioso.Quando se encontrava perto dele, cheirava lhe á paz, ao sossego.O espaço afunilava se á volta deles, e o tempo retraía se em pasmos dolorosos e aflitos. Quando falava... quando ria... então... pareciam bolinhas a entrarem pelo seu coração... e a voz era suave, leve, muito curvadinha, como são as laranjas e as maçãs doces das árvores apanhadinhas...uma voz que tinha um cheiro a rusmaninho, que parecia dar umas pancadinhas por vezes, na sua cabeça penteadinha... e depois eram aquelas mãos... tão leves, tão macias... e se, por acaso se tocassem na eminência de um reparo, de um qualquer exercício, sentia no corpo uma tão amistosa animação, que a levava em sonhos, direitinha para o colo do Menino.E na ideia incessante se inibriaria toda a noite e todo o dia,pois que já lhe apontava uma dor no ventre, mesmo por debaixo do umbigo.E no alheamento da sua cama, se via por ele seduzida, cheia de afrontamentos dolorosos, corada, arfando, chamando baixinho ... Ai,! gemera a Senhora, hirta... e, sorvendo as dolorosas linhas debilitadas e curvadinhas, frias e geladas, enfrentou a dolorosa revelação. Soluçou, dolorosa, baixinho, atirando se para cima do soalho encerado e asseadinho , e, como se estivesse a vomitar , debitou de dentro de si, alargando os lábios num jeito apiedado e coitado, do doido que se quer matar, uma míriade de desabafos ,de ditos, de sítios , voltas e idas, que jamais, nunca, ousara ouvir... por carência de uma amiga...sim... sim... tinha se lhe entregue num vôo repentino... não pudera mais suster a respiração, nem tão pouco estar a seu lado sem sentir o seu coração sorrir.No princípio assustara se com a mudança de ritmo, mas depois descobrira lhe a vontade e o gosto em retribuir.Pois que ela se lembraria durante anos, do arfar rápido de seus novelinhos vermelhos e acelerados, que não a deixavam prestar atenção quando, perigosamente achegados, se entretinham os dois na hora da lição. Achara o de início fraco no parecer, mas aos poucos e poucos descobriu lhe os legatos das coisas que pretendia dizer, véus que se fechavam e que se abriam, coloridos, cheirosos, dando sentido ao vazio da sua vida. E o teclado, que até há pouco lhe parecera mudo, começou a acenar lhe fantasias, sob o impulso humedecido de sua mente e do seu carinho. É que ele tinha uma voz que se arrastava levinho, pulsando em sotto vocce por cima das suas mãos paradas e frias. E começou por perceber as idas e as vindas das muitas coisas lindas que ouvira há muito e não conseguia reproduzir. E depois , daquele corpo leve, soltavam se neblinas, trovoadas, que estonteavam quem o estivesse a ouvir... e tudo se fazia, e tudo se dizia numa simplicidade de ideias, tudo encaixava direitinho na cabeça da menina, e ela percebia... entendia... e os ardores da mente passaram para os dedos, e dos dedos subiram para o braços, e um dia, não podendo mais, atreveu se a pousar sobre a face dele aquele olhar pesado, cheio de perguntas ousadas que nunca pensara emitir... porque ela não tinha pai nem mãe... tinha se a si e á titia que a tomara para ela, que a queria para suas promenades, seis festims, e para tocar para si, que a vida sem música tornava se monótona, e ninguém chegaria a casa para a festaria... tinha sido uma gaucharia... sim... um desmorronar de uma bola de neve, num regaço quente... e ela ali se derretaria... inocente... desejara muito a intimidade que há muito lhe apetecia, e deslizou levinha, para cima do corpo que por ela há muito sonhava...porque ela sentia... sabia lhe de cor os desejos que pelo seu corpo varriam, estremeciam lhe os dedos quando os seus corrigiam, e por vezes, num astucioso crescendo de uma qualquer fantasia, murmurava baixinho, " bravos" , " lindos"! e tudo nela se enaltecia...se expandia... e a vontade de lhe ir ao pescoço arrematava lhe a doidice, e depois era também aquela coisa de que se falava em segredo... que o amor não era próprio de meninas, de donzelas pequeninas, e ela que tinha quinze aninhos falar se dessas coisas era determinantemente proíbido... e depois resvalou languidamente para o chão, sem desconforto, como se se estivesse a enterrar num chão cheiroso e lamacento, onde, em lugar da terra estivesse ali um tapetinho florido ... um ladoçal de algodão cheiroso onde se afundou, sem vergonha nem pudor,de encontro áquele corpo delgado que, já por dentro dela estremecia... e descobrira tudo do quanto ouvira, quando o seu professora para ela se virava e dizia: é assim... veja... toque como se a alguém a si, se declamaria... ouça as batidas do tempo no seu coração, e no seu sangue, siga as pisadas do tom que se anuncia... veja o sol... a luz... o esplendor do nascer de um novo dia... e sinta... veja... escute... as portas do céu a abrirem se... era assim... sempre, quando de Bach se tratava... uma voz, outra, e uma terceira, uma quatro repicando os ditos , e todo um coro, e cada um por seu lado numa ampla correria, trocando beijos, entrelaçando se, sorrindo ...e tudo isto estontecia... e voavam os dois , solitários pela sala acima, de mão dada, entorpecidos, e eram sobretudo nas pausas longas das cordas paradas... ressoando numa divagação de mistérios e corridas, que eles se entreolhavam, curiosos , na demanda de seus sentidos... e na descida aloucada, perdiam as terrestres energias, e numa assombração divina, juntaram se os corpos aflitos numa oração apiedada , que Nosso Senhor acudisse... mas o
Supremo Senhor não chegou e agarraram se os dois, perdidos, numa dança nunca ensaiada de carícias... e depois ... gostaram os dois do acontecido... e no dia da lição ficava se melancolica e aflita, na tardancia da combinada hora dita. E ela que nada ou pouco sabia das fantasias e obras de seu corpo menina, nunca pensou o que mais tarde lhe aconteceria...

Thursday, April 05, 2007

Sou grande ... como uma árvore ...
E nos tufos que escurecem vigio lhes os passos ...
Trémula ... por dentro da desaustinação
Do tudo o que por aqui se faz ...
E agita se me o coração num farto gemido saudoso
Ao ver os amantes abraçados ... vergados num arco íris malhado
Embalados na dança de seus corpos perfumados ...
Ai ... sou tão velha ...
E os meus olhos estremecem no tumulto ruidoso
Em que se debatem ... procurando ... na boca ...
A mama da mãe há muito esquecida e agora achada ...
E é se quase sempre generoso ... espirituoso no enlace ...
E eu ... extasio me ... comovida ... saudosa do gosto quente
E do feixe erecto que por entre as colunas rijas se debate...
E na efervescência da dança ritmada ouvem se ruídos celebrantes ...
Fixo os olhos quebrados ... na oscilação do mar agitado e manso
E agasalho me ... em seu ritmo pulsado ...
Onde estás amor ... por onde andas sózinho na viagem ?
Recolho me então ... louca ... insensata ...... por dentro do meu orvalho ...
Ai ... sou tão larga ...
E dentro de mim dormem ardores ... um fogo que queima ...
São os Anjos que consentiram em mim pernoitar
E de dentro do vazio que o tempo em mim esburaca
Se me enche o peito de hinos cânticos e cantatas
Encomendas mandadas de lá ... dos amigos que partem ...
Ai sou tão frágil ... que em mim ... já só cabem ...
Os sorrisos ... as palavras afectuosas ... os olhares ternos
Dos que me querem amar ...
Agora ...já ... nos novelos sonoros ... mágicos ...
Em que suas almas se tornaram ...

Sunday, April 01, 2007

Soaram as badaladas findas ...
Atordoaram se me os sentidos frágeis ...
Amor como de ti fugir
Se a noite prometeu
Em nós ficar ?
Correm leves e gentís
Esses meninos que cantam
São bálsamos frescos ... estonteantes ...
Que em nós teimam pernoitar !
E no sussurro tangível de nossas almas
Oh! nobre sentimento aprimorado
Que em nossos peitos te deitastes ...
És tu amor ... sacramento desejado ...
Que para aqui te vieste a demorar ...

E foi assim ... sempre achegadinhos um ao outro ...
Sem nunca perderem as estrelinhas no olhar ...
No cuidado da tua pele me embrenho contente
Oh! Amor de meu intento
E no acanhamento da minha intenção
Me revelo ...
Fecho ... penosa ... os olhos supremos ...
Altiva é... a chama que neles guardo
E no arrebatador calor que me ataca
Aflui ... da prenhez que me avassala
Uma míriade de lembranças ...
E no aprontamento da imagem me calo
Trémula ... me achego em tua demanda ...
Onde estás lindo donzel
Que a mim te entregavas
Na volúpia de minhas mãos
No rasgo de meus beijos
E na pele ... a caminhar ...
E esses braços fugosos
Que para mim esticavas
Onde estão ... para os apertar?
Ai ... fugiram de mim as asas ...
Grandes ... generosas ...
Do tanto te provar ...
Do muito te ter ... de a ti me entregar ...
E vejo te donzel meu ... te partires ...
Para sózinho te andares ...
E no frágil tecido
Do teu semblante delicado
Guarda me fina ... casta ...
Enclausurada num teu olhar ...
Molhados estão vossos olhos
Amor ... por me não avistares ...
Ai ... por onde andam as asas minhas
Cansadas de te não encontrar?
Onde estão as asas minhas ?
As asas minhas ?
Asas minhas ?
Minhas ?