páginas brancas

Wednesday, February 22, 2006

A visita

Um dia...num dia
Branco...embrulhado em papel nuvem
Uma cotovia cochichou me baixinho
Que eu tinha um amor...
É por ti que espero
Olhando para o azul do céu
Para o verde da serra
Para a negra terra
E no relâmpago súbito
Rompendo o ventre da noite
Espero e escuto os teus passos...
Vens então estender te
No meu seio quente
Na beira do meu lábio morno
E com beijos te embalo
Espero então...olho aberto
E o verde dos meus olhos
Dilui se no espaço vertical
E é no perfil do meu sonho
Que te vejo
Vem...vem, meu amor azul!


"Beijo" de Isa Gama

Tuesday, February 21, 2006

Cansaço

É a vertigem da dor encontrada
Na rotina do dia que passa
Da noite...
da fera escondida e que não ladra...

Eu!

Não tenho tempo, não tenho idade
Sou filha da pedra, do mar, do ar
Nasci do nada, em noite de encantar!
Não tenho tempo...
Sou filha da lua, da estrela polar
Subi montes e colinas para cá chegar
Percorri léguas, agarrada a teus pés
Dormi junto ao teu peito em noite fria
Corri o teu corpo nu, num suspiro profundo
Respirei fundo, o sabor quente do teu hálito maduro...
Não tenho tempo!
Sou filha do espaço, da luz
Sou a asa esquecida do vento
Sou a mão que aconchega e não se sente
Sou a coisa perdida e que não se acha
Sou a filha do rio, que não tem morada!
Sou os lábios carnudos e tenros dos namorados
Sou tudo e não sou nada!
Já fui árvore rachada, em noite de trovoada
Rasguei ventres em madrugadas aflitas
Chorei mágoas ao vento
Respirei o suor dos dias cansados
Enterrei anjos e cobardes
Sou a noite, embalando docemente a saudade
Sou tudo e não sou nada1
Sou a mão, a pata, a pisada
Do bicho cinzento, seguindo a amada
Sou o rasto da fera, perdida no mato
Sou a sombra desvairada,, perseguindo a traição consumada
Sou aquilo que nunca acaba!
Sou o beijo roubado
A morte sentenciada
A fuga planeada
A força enjaulada
O amor exuberante
Olhos brilhantes
Boca gulosa
O desejo abafado
O abraço inseguro
O ventre, o ninho, o aconchego...

Sou tudo e não sou nada!!!

Monday, February 20, 2006

Um dia vou morrer-hei de me findar um dia...novinha por fora,velha por dentro, ou...velha por fora e novinha... cá bem dentro...não importa muito o estado de degradação que o meu corpo tiver, pois o acabar dos tempos vai abrir mais um buraquinho no tempo para alguém puder caber bem inteirinho, em vez de min... que já me parti...tenho é de pensar nas oportunidades que outros terão de ter... por min... aquilo que muito quis, e de que não fui capaz de obter...há uma angustia estonteante no estar se sempre a querer dar mais do que é possível de si próprio aos outros, é como se alguém estivesse permanentemente á espera de nos crucificar por algo que tenha corrido menos bem....mas não faz mal...um dia pode ser que volte para cá e logo a gente verá como as coisas irão correr...desta vez...

Saturday, February 18, 2006

Se me abraçasses com força, meu amor...
Sentirias a quentura que trago em min...
A papoila carmesim com que enfeito o meu corpo
Todas as noites que estás em min...
Se me abraçasses de verdade amor....
Verias, no corado das minhas faces
A elegante lua saindo...
Surgindo de dentro da minha boca
Reclamando o sorriso que me entretém
Naquelas noites de insónia
Quando penso em ti...
Se me abraçasses com força, meu amor
Verias no meu pescoço
As marcas dos beijos
Que a rosa , o loureiro e o jasmin
Enamorados,deixaram aqui...
Enlaçados em min...
Se me abraçasses, amor
Velejarias nos meus cabelos fartos
E eu te afagaria com beijos
Essa tristeza que trazes em ti...
Descansarias nas searas do meu ventre
Isso...se te chegasses a min...
E como uma flor varrida pelo vento
No ar tempestuoso de uma noite fria
Colher te ia...com um sorriso
Com mil cuidados
Levar te ia para qualquer lugar do paraíso
Onde podessemos, tu e eu ...
Ter te só para min


Não acredito no poeta que se senta, á espera que algo lhe surja...ser se poeta, é viver no limiar da loucura...e é essa loucura que me tem avassalado anos a fios, e da qual dificilmente penso um dia ser expulsa por outro que queira tomar o meu lugar,loucura essa,que me tem mantido viva e
expectante, pois enseio por novos actores que venham dar outros sentidos ás vidas dos homens
As minhas raízes não vêm da terra, estão amaranhadas,formando um ramo grosso,presas ás nuvens,espalhando se pelos céus, pedindo me sempre que as tenha bem seguras em minhas mãos, pois elas já vão ficando fraquinhas, e eu não as quero soltar...podem magoar alguém...

Friday, February 17, 2006

A noite apertou me na sua cinta estreita...acordei magoada, com o corpo açoitado e queixoso, das voltas e reviravoltas, dadas em tom de desespero...últimamente têm me acontecido coisas estranhas...não me tem visitado aquele sono mansinho que me beija os olhos até ao amanhecer...pesa me a cabeça, como se um trovão se tivesse vindo para aqui instalar,sem pedir para tal, a devida permissão...não convidei nínguém para dormir comigo,por isso, faça me a gentileza de desaparecer daqui,seu atrevido...quereis tirar me o sono!!! o juízo!!!preciseis de uma vítima para atormentar...hoje coube me a min a triste sentença...sois uma alma penada que anda de porta em porta a pedir guarida por uma noite...mas veja lá se não me dá tanto desassossego, pois morro me de cansaço...que isto não se repita, pois há por aqui , mais gente desocupada, e até com bem pouco por fazer...até lhes havia de fazer bem, uma dorzinha de cabeça de vez em quando....olhe lá para a nossa vizinha, aquela sim...merecia bem ter de vez em quando um trovãozinho na cabeça.Observo a de vez em quando, com um misto de curiosidade e de inveja contida...espreguiça se , desnudada á varanda.Bamboleia as suas rosas fresquinhas, e canta, por entre os lábios carnudos e grossos,uma cascata de sons, que o vento leva para lá dos montes e vales que lhe bordejam a casa.Contava ela certo dia, a história de um tal rapazito, fugido há ums tempos...que o queriam á força casar, com a tal dita menina, de carrapito e coxa ossuda...ai...e esta dor que não despega...navegam pelo ar, uns passarinhos elegantes...olham na de perfil, como se ela não coubesse toda inteira nos seus olhitos,e ela, deita lhes bufadas de tabaco irlandês, meio rasco,em cemi círculos,largos,por onde viaja a sua alma amolgada.São sempre lufadas bem gordas,que desenham círculos largos, redondos, com os bordos bem afiados,como se se tratasem de guilhotinas, prontas a arrancar lhes as cabecinhas curiosas.Dizem que é mulher voluntariosa,astuciosa...conta se nos arredores, que lhe fugiu um dia um rapazinho franzino, que ninguém queria, e que se abeirou dela, para logo depois desaparecer na escuridão dos dias escondidos e vergonhosos, das gentes assustadas...dizem que foi por lhe ter visto a boca, que se aprontava a prová la, como se de uma fina iguaria se tratasse...todas as bocas sabem bem...mas daquela ,desprendiam se um cheiro e uns grunhidos assustadores, de alguém que procurava a excitação e o desmoneramento das almas que ali aterrassem...coitada da moça...é vê la...linda de morrer...naquela varanda,mostrando se...de longe...deitando olhares cândidos,aos mirones, agarrados aos binóculos...vá, instala te aí, dor insuportável!Conta se por aí, que a tal menina nasceu de barriga, tendo na altura, que se lhe puxar pelo pipi, para a retirar do ventre da mãe,que, suando e gritando,clamava que a estavam a matar, e que por isso,se despachassem com o serviço,que ela tinha mais que fazer...e lá chegou então, em dia e data incerta,o pipi, o maior pipi, jamais visto!!!Vinham de todas as bandas para o verem, e entreterem a dona,com suspiros e promessas enganadoras...homens, mulheres, rapazes fugosos e hábeis, em rolar na palha farta da estrebaria, e consta se também que, donas curiosas, procurando por lá o milagre da sôfreguidão com que os homens iam com tanta sede ao pote, espiavam a coitada, que, esperta, nunca quisera partilhar a alma do negócio com ninguém....até os médicos em dada altura lá quiseram ir...não fossem eles descobrir lhe alguma doença, e ela ver- se privada daquela coisinha tão boa, que lhe arrancava gemidos , essências de prazer, que lhe preenchiam os dias...Por vezes, chega me aqui, atravessando o vale fartamente bordejado de acácias, um cheirinho a não sei quê!Dizem as más linguas, que é do trabalho a mais , que aquela menina dá áquela coisa...pois bem, ela agora, que feche as suas perninhas, que se ponha para dentro de casa,que dê sossego áquela sua coisa...e tu, oh dor implacável,deixa me, e vai pousar ali...

Wednesday, February 15, 2006

hoje pus as minhas crianças a cantarem uma ária de Alessandro Scarlatti, para, quem não o saiba, foi nosso visitante, na corte de d.joão v, e que privou com o nosso não menos, mas mesmo não mesmo, Carlos Seixas,,compositor coimbrense, nascido em 1704, e que viria a falecer em 1742,que, apesar de uma vida breve, compôs em média, centena e meia de obras musicais,música principalmente para clavicórdio, cravo e orgão, música instrumental e sacra.E porquê, falar eu, tanto deste excelente senhor, que aos dezasseis anos, já rivalizava com os maiores teclistas da época?porque os meus alunos, e mais umas boas centenas para não dizer milhares de meninos e meninas, não conhecem este senhor, que,precisamente, privou com o grande senhor Scarlatti, tendo este último, junto ao Rei, ter afirmado que nunca vira tamanho talento, pelas cortes europeias que visitara.para quem me leia, recomendo a audição das 80 sonatas para tecla do nosso grande compositor, e por ausência de registos musicais para voz, convidei pois os meus meninos a cantarem uma áriazinha do excelso colega e amigo.Disseram me as crianças que a música era muito calma...pois é mesmo isso que eu quero...acalmar as nossas crianças que andam de todo esfoladas dos ouvidos, e dar lhes um aperitivo bem sucolento, para digerirem aos serões, cantando para as suas famílias...e vai daí um pouco de min...
hoje pus as minhas crianças a cantarem uma ária de Alessandro Scarlatti, para, quem não o saiba, foi nosso visitante, na corte de d.joão v, e que privou com o nosso não menos, mas mesmo não mesmo, Carlos Seixas,,compositor coimbrense, nascido em 1704, e que viria a falecer em 1742,que, apesar de uma vida breve, compôs em média, centena e meia de obras musicais,música principalmente para clavicórdio, cravo e orgão, música instrumental e sacra.E porquê, falar eu, tanto deste excelente senhor, que aos dezasseis anos, já rivalizava com os maiores teclistas da época?porque os meus alunos, e mais umas boas centenas para não dizer milhares de meninos e meninas, não conhecem este senhor, que,precisamente, privou com o grande senhor Scarlatti, tendo este último, junto ao Rei, ter afirmado que nunca vira tamanho talento, pelas cortes europeias que visitara.para quem me leia, recomendo a audição das 80 sonatas para tecla do nosso grande compositor, e por ausência de registos musicais para voz, convidei pois os meus meninos a cantarem uma áriazinha do excelso colega e amigo.Disseram me as crianças que a música era muito calma...pois é mesmo isso que eu quero...acalmar as nossas crianças que andam de todo esfoladas dos ouvidos, e dar lhes um aperitivo bem sucolento, para digerirem aos serões, cantando para as suas famílias...e vai daí um pouco de min...

Tuesday, February 14, 2006

Branco e preto...

O meu mundo é branco e preto...teci-o ao longo dos anos, amarahando-me pelas vertentes ruídosas e acalentadas dos dias e noites, que não me deixavam sossegar...é uma mistura de verão e inverno,que se acasalam na mais fresca harmonia e cromatismo de fragâncias...logo ao raiar do sol ,como se uma voz lá bem longe me chamasse, debruçava me sobre a minha panóplia de cores e mistérios,e lá pousava a minha cabeça, enterrando dolcemente a minha alma nas profundezas desses abismos estonteantes,e eram nesses braços que me acolhiam e embalavam, que fui crescendo, tal semente, refrescada pelas geadas das auroras.Partiu me o destino uma asa, e por isso, todos os dias, num vôo repicado,tento, ensaio malabarismos dolorosos,vertiginosos, que me arracam por vezes gritos de dor,para poder de novo voar, por cima dessas montanhas enormes que,vestidas do seu eco chamam por min, num grito aflito de dor e de saudade...quebrei uma asa...sem dar por isso,sem nunca ter tido a consciência da transgressão, do erro...foi assim...sem o querer, sem ter sido consultada...e tudo isto, num só dia de uma vida...sem uma vénia,sem nenhum cuidado, entrou alguém por qualquer porta deixada aberta...sem uma vénia sequer, sem nenhum cuidado...cortaram me um membro...sou agora a férrea vontade,caminhando por esses vales outrora ensoleirados,derretendo neve por baixo dos meus dedos bailarinos e acrobáticos..mas caminho, sigo o meu destino,de longe, revejo os vales assombrados nos quais , tantas vezes ,nem ave de rapina,piquei fundos vôos....tenho saudade daquela fera selvagem, uivando ao sol, desafiando o...qual deles raiaria mais, nos peitos dos homens?todo o artista é um louco, querendo desafiar as leis imutáveis da natureza...tenho saudades daquela fera ,lambendo os beiços arqueados, prontos a darem a dentada...e aquela luz lá, bem distante,confundindo se com o desejo e a vontade,cobrindo tudo de um véu cor de pêssego...essa luz desapareceu um pouco de dentro de mim...mas eu caminho,vou...pico a fera, toca a correr,grito, pulo, até o meu espírito acasalar com a sombra desmedida que surge a meu lado...a onda avassaladora dos mil cuidados...não querendo derrubar ninguém...passando por cima das cabeças atentas e curiosas, das que me queriam cheirar...e aquele saborzinho distante, que se entrenhava nas costelas e vísceras dos mais ousados, que mantinham as portas abertas do coração, e que me lá deixavam entrar...o meu mundo é axedrezado...cruzam se as cores e as formas,carácteres caprichos e vontades...montinhos de algodão perfumados...tudo flui á minha volta,...dou comigo a dançar...a cantar...derrubo cadeiras...miro ao espelho, e declaro bem alto, para que todos sejam testemunhos do meu soar...que hei de voltar a tocar...tudo isto foi dito, afirmado, á frente do retrato do Senhor Bach, que tenho por meu patrono e pai...ouve se a campainha a tocar...aparece um jovem á soleira clara da porta, carregando por cima da touca, um lampejo firme de vontade...sabem...o muito querer tem cor...é um brevíssimo clarão, que tem olhos de verdade, e que nos pisca de soslaio...entre, pode se sentar...como o caule de uma flor,dobra a espinha,e toma lugar no banco estofado...retira o toucado...olha bem para mim, e com a voz emocionada, cheia de fina graça,pede me simplesmente que lhe ensine a tocar...que ultimamente as mãos não lhe têm dado sossego,e que lhe pedem outro aconchego, um outro lar...que dava por ela a cantarolar, mas que isso não chegava...que gostava de...pianoter...na mesa, músicas inventadas, ou há muito ouvidas,e que recentemente, até tinha sido visitada por uma certa fadinha, que a tinha posto a tocar num lindo piano dourado...e que na sua cabeça, não paravam as notas de ecoar...desde então, tinha se lhe acabado o sossego, e que vivia desconfortada...pediu me que a deixasse abraçar o amigo, por quem tinha vindo ao chamado...estendeu os braços e apertou o bem junto a si...grande de mais...mas não era impossível, que um dia, ele entrasse inteirinho no seu coração...tudo cabe aqui no nosso peito...não é? Então, a menina tirou as mãos do colo, pousou as na boca branquinha e raiada do amigo, sem medo de ser engolida, sem medo de nada...

Chute-se a bola da estupidez

O sorriso da esperança, pontapeando a estupidez que me ataca passo a passo...amigos, sorriam, pois é a única maneira de desviar as más intenções do inimigo que se oculta por detrás das multidões...façamos honras ao nosso anjinho da guarda que nos segreda e nos encaminha, sem darmos por isso...

Espanto!!!

Liberdade violada equivale à exposição nua e crua do nosso corpo perante olhos inquisidores e maldosos. É uma rasteira que dói e da qual só se levantam os mais fortes. Não teremos nós a obrigação de nos precavermos contra esse atentados que despromovem a ética e a integridade do ser humano.